A narrativa de aliados é que Doria foi aclamado candidato e, atendendo a pedidos, aceitou
Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), lançou-se pré-candidato a governador nesta segunda-feira (12) e, ato contínuo, aliados irão a Geraldo Alckmin (PSDB) pressioná-lo para desarticular as prévias.
A expectativa do grupo de Doria é que Alckmin demova dois dos três pré-candidatos de disputar, Floriano Pesaro, que é secretário do governo, e Luiz Felipe d’Avila, que tem boa interlocução com o tucano.
Nos próximos dias, o plano é que o presidente do PSDB paulista, Pedro Tobias, e o presidente da Assembleia, Cauê Macris, procurem o governador com o pleito.
Conselheiros do prefeito paulistano dizem que, ficando apenas o ex-senador José Aníbal nas prévias, crescem as chances de ele desistir ou perder já no dia 18.
Em ato no diretório estadual, nesta segunda, aliados de Doria entregaram um pedido de inscrição do tucano nas prévias.
Eles colheram mais que o dobro de assinaturas necessárias para inscrevê-lo —1.704 dos 3.600 delegados estaduais do PSDB, ou 47% do total endossaram a iniciativa.
Com isso, procurou-se contar a narrativa segundo a qual Doria foi aclamado candidato e, atendendo a pedidos, aceitou.
“Aceito essa condição”, discursou Doria. “Vamos juntos para a vitória e contribuir para dar ao Brasil o presidente chamado Geraldo Alckmin.”
“Não tenho medo de prévias, não tenho medo de debate. Ao contrário. Agora, o maior debate é com o povo brasileiro, com o povo desta cidade e do estado”, declarou.
Para tentar obter um gesto simpático de Alckmin, estrategistas do prefeito paulistano argumentam que o governador sairá como derrotado se não atuar. Dizem que o calendário de prévias adotado era favorável a Doria e contrariou interesse do próprio Alckmin.
Portanto, afirmam, se o governador resolver ajudar o prefeito a esvaziar as prévias, ele, em vez de derrotado, ficará como credor.
Pela demora de Alckmin para entrar em campo, o entorno de Doria teme que o governador adote a mesma postura na campanha e não apenas não ajude o prefeito como ainda seja simpático ao seu vice-governador, Márcio França (PSB).
Aliados de Doria reconhecem que a relação com a equipe de Alckmin e com o próprio ficou desgastada com as movimentações frustradas do tucano para se viabilizar candidato à Presidência. Teme-se que o prefeito volte a mirar o Planalto se houver brecha.
Para passar confiança, Doria insistirá que o governo paulista é o seu único plano.
“Com todo o respeito aos demais estados, a eleição nacional será em São Paulo, é o estado que fará a diferença para garantir o futuro do Brasil”, discursou Doria. “O adversário do PSDB não está no PSDB, está fora do PSDB”, disse.
Questionado pela Folha se ele se referia a França e se o palanque duplo não prejudicaria Alckmin, Doria negou.
“É um homem sério, dedicado. Não tenho nenhuma objeção ao Marcio França e acho que teremos uma disputa elevada, construtiva”, respondeu. “Juntos poderemos fazer melhor, eleger Geraldo Alckmin, nosso objetivo maior.”
“O palanque duplo já foi feito em outras campanhas. Não há nenhum mal, respeitando-se as candidaturas, elas podem caminhar sem problema nenhum.”
Indagado sobre o apoio do governador, Doria afirmou que “não é preciso aval de Alckmin, é preciso aval do PSDB”.
JOÃO TRABALHADOR
Com boa parte dos secretários municipais e assessores no ato no PSDB desde pelo menos as 17h, adversários do tucano ironizaram o fato de a prefeitura ter se esvaziado para lançar o prefeito candidato mais uma vez.
No diretório, militantes vestiram camisetas pedindo Doria governador e cartazes ressuscitaram a marca “João trabalhador” da campanha do tucano à Prefeitura de São Paulo, em 2016.
Líderes tucanos presentes ao ato trataram de elogiar o vice-prefeito Bruno Covas (PSDB), que assumirá o posto, e sublinhar que a decisão de lançar Doria partiu da militância.
Cauê Macris e Bruno Covas entoaram o mote “Aceita, João”.
“João Doria é um trabalhador e vai deixar em seu lugar Bruno Covas, que orgulha a todos nós”, disse o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB).
“Candidatura majoritária não é vontade pessoal, é coletiva”, disse o deputado federal Ricardo Tripoli. “Você tem hoje o grande desafio de aceitar a vontade da maioria partidária”, afirmou a Doria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário