- O Globo
Ao tomar partido dos Estados Unidos no conflito com o Irã, o Brasil afrontou sua tradição diplomática, reforçou a submissão à Casa Branca e criou riscos desnecessários à segurança nacional. O diagnóstico tem sido repetido por diplomatas e militares preocupados com a guinada da política externa sob o governo de Jair Bolsonaro.
As queixas se multiplicam desde a sexta-feira, quando o presidente associou o general Qassem Soleimani ao terrorismo. Ex-ministro de Bolsonaro, o general Santos Cruz disse que o Brasil “não tem razões” para se envolver na disputa entre Washington e Teerã. Em nota, ele afirmou que a decisão de abandonar a neutralidade demonstra “irresponsabilidade” e “falta de noção de consequência”.
O general deixou claro que sua preocupação não é com as relações comerciais. Sob este aspecto, a subserviência a Trump também parece uma escolha desastrada. No ano passado, o país registrou US$ 2 bilhões de superávit na balança com o Irã.
A Constituição afirma que as relações internacionais do Brasil devem se pautar pela não intervenção e pela resolução pacífica de conflitos. São princípios permanentes da República, a serem obedecidos por governantes à esquerda e à direita.
O embaixador Celso Amorim, chanceler dos governos Lula e Itamar, avalia que a morte de Soleimani pode criar novas dificuldades para os EUA. “O que ocorreu foi um ato de guerra não declarada. Agora deve começar um conflito prolongado, com consequências imprevisíveis”, afirma.
O ex-ministro classifica a nota do Itamaraty em apoio aos americanos como um “desastre absoluto”. “O Brasil sempre agiu em defesa da paz. Essa guinada pode trazer para cá um conflito que nunca teve nada a ver conosco”, alerta.
Em 2010, Amorim atuou na costura de um acordo nuclear entre os EUA e o Irã. O pacto seria firmado cinco anos depois, sem a participação brasileira. Trump abandonou o trato em 2018. Agora foi a vez dos aiatolás, que prometem vingar a morte de seu general.
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