O
general recuou. Depois que autoridades afirmaram mais uma vez que não há
remédio eficaz contra o coronavírus, Eduardo Pazuello disse que nunca
recomendou aquilo que o
próprio governo chama incansavelmente de “tratamento precoce”. O Ministério
da Saúde tentou empurrar cloroquina ao país, mas o militar deve ter percebido
que andava em terreno perigoso.
O
comprimido é a peça simbólica que comprova a ação devastadora do governo Jair
Bolsonaro na pandemia. O presidente e seus auxiliares fizeram a opção por um
protocolo de tratamento fantasioso, que sufocou os esforços pela vacinação dos
brasileiros e até o fornecimento de material básico para a sobrevivência dos
doentes.
Três
dias depois de saber que Manaus estava prestes a entrar em colapso, Pazuello
deu uma palestra em que defendeu remédios ineficazes e disse que não havia
“outra saída”. O ministério quis despejar cloroquina no Amazonas, mas mandou
oxigênio insuficiente para abastecer o estado.
Se mudou de ideia, o general deveria delatar o chefe imediatamente. Enquanto Pazuello finge indignação e diz que não indicou medicamentos, Bolsonaro segue à frente do movimento do charlatanismo. “Não desistam do tratamento precoce. Não desistam, tá?”, pediu a apoiadores, na segunda-feira (18).
Ao
longo da pandemia, o presidente fez campanha para que a cloroquina fosse usada
no lugar dos imunizantes
que ele trabalhava para sabotar. “Enquanto não tiver uma vacina realmente
confiável, e uma vez contraída a Covid, eu recomendo que faça o tratamento
precoce”, disse Bolsonaro na TV, em dezembro. “Tá aí à disposição. Pegou,
toma.”
A
covardia de Pazuello mostra que ele talvez tenha medo de perder o cargo ou de
ser processado. A desfaçatez de Bolsonaro sugere que ele confia na impunidade.
O Ministério Público e o Congresso podem investigar a responsabilidade de cada
um. Os atos de ambos estão registrados em vídeo e documentos oficiais.
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