Não
há mal que sempre dure. O governo Trump acaba e hoje começa a administração
Joseph Biden e Kamala Harris. Não será um tempo fácil. Os Estados Unidos chegam
a impensáveis 400 mil mortos por coronavírus e a recessão ceifa empregos. Biden
terá que tomar decisões urgentes contra a pandemia. Por ordens executivas ele
vai revogar políticas de Trump, principalmente na área externa. Tentará aprovar
o pacote de US$ 1,9 trilhão de socorro aos trabalhadores e à economia e, como
disse ontem Janet Yellen, a nova secretária do Tesouro, a mudança climática
será assunto central na administração.
Em
compensação, Scheinkman se diz muito impressionado com a qualidade da equipe
que Biden escolheu em áreas fundamentais como economia e ciência:
— Janet Yellen é uma economista com merecida e ótima reputação, e todo mundo concorda que a conduta dela no Fed foi excelente. Para o Conselho de Assessores Econômicos, escolheu minha ex-colega de Princeton Cecilia Rouse, que respeito muito. É muito melhor do que qualquer dos conselheiros de Trump. Ele escolheu como assessor científico Eric Lander, que liderou nada menos que o Human Genome Project, extraordinariamente competente. E elevou o cargo ao nível de ministro. Depois de um governo que não acreditava em ciência, ele nomeou um cientista de primeiríssima linha.
Biden
começa assim com uma mudança radical de atitude, mas seu primeiro trabalho,
segundo Scheinkman, será “apagar incêndios”.
—
Mudança climática é um desses incêndios. Evidentemente, os Estados Unidos
voltarão ao Acordo de Paris. Trump tomou várias decisões nos últimos dias que
se forem implementadas vão acelerar a crise climática. Biden terá de rever. Mas
o mais imediato é reduzir a mortalidade da pandemia. E ele terá que negociar
seu pacote, que ainda é apenas uma intenção e será alterado no Congresso. Sobre
a economia, há um relativo otimismo de que a vacinação permitirá a volta — diz
Scheinkman.
O
professor diz que a crise de 2008, que Obama enfrentou ao assumir, destruiu o
sistema financeiro, e a economia teve dificuldades. Não havia dinheiro, não
havia empréstimos, nem investimentos. Agora, é diferente:
—
Esta tem um aspecto que a gente não entende. A demanda pode voltar, mas os
pequenos negócios podem ter desaparecido. Aqui em Nova York, todos gostam de
café, mas alguns podem ter fechado. Muitos donos de loja desistiram do negócio.
Scheinkman
diz que a vacinação é um grande desafio, porque há mais vacina produzida e
entregue ao governo central do que as que estão sendo aplicadas pelos estados.
Há um problema federal e outro estadual. Ele foi vacinado na segunda-feira, em
Nova York:
—
O processo ficou muito lento aqui, mas Cuomo (Andrew Cuomo, governador de Nova
York) fez alterações. Uma delas é a de incluir professores de todas as redes,
inclusive universitários, e pessoas de mais de 65 anos.
O mundo mudará radicalmente hoje, porque a direção da principal potência do mundo será outra, a partir do meio-dia. O Brasil sente nos últimos dias o peso da estúpida opção pelo isolamento. É uma das maiores nações do mundo, em extensão e em PIB, mas o presidente, seus assessores internacionais e seu ministro das Relações Exteriores são adeptos de teorias da conspiração. Ernesto Araújo chegou a dizer “que seja um país pária”. Ontem, o país não conseguia receber as vacinas da Índia, tinha dificuldades de diálogo com a China, e Bolsonaro viu o fim do governo do seu idolatrado Donald Trump. É um crime fazer isso com o Brasil, que sempre teve uma competente diplomacia. No caso dos Estados Unidos, a política externa de Bolsonaro cometeu o erro mais primário, o de confundir país com governo. Criou relações com Trump, que era transitório, em vez de ser com os Estados Unidos, hoje sob nova direção.
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