Há
luz no fim do túnel: quando serei vacinado, onde?
Ao
meio-dia de hoje, Joe Biden deverá assumir a Presidência dos Estados Unidos, e
Donald Trump foi-se embora. No Brasil, começou a ser aplicada a vacina contra a
Covid-19. Mudou o jogo. Dois centros irradiadores de ansiedade e morte perderam
a iniciativa. O capitão Bolsonaro e o general Pazuello podem dizer o que bem
entenderem, mas há luz no fim do túnel: quando serei vacinado, onde? Trump
continuará dizendo que ganhou a eleição, mas Biden estará no Salão Oval.
Bolsonaro
e Pazuello continuarão em guerra contra João Doria, mas foi ele quem acelerou a
chegada da vacina. No caso do relacionamento com o governo de Joe Biden, o
problema será outro. Noves fora todas as pirraças de uma diplomacia que se
sente bem colocando o país na condição de pária, haverá uma nova realidade na
Casa Branca. (Na Índia, a vacinação maciça imunizará seus párias, antes que as
vacinas do general Pazuello cheguem aos marajás de Pindorama.)
No
lugar de um delirante vulgar, estará na Casa Branca um mandarim que passou oito
anos na vice-presidência e 36 no Senado. Para o atual governo brasileiro, a
chegada de Biden irá além das diferenças entre republicanos e democratas,
ambientalistas e agrotrogloditas. Trump levou consigo a capacidade de operar
numa realidade paralela, dimensão frequentada por Bolsonaro, pelo venezuelano
Nicolás Maduro e pelo filipino Rodrigo Duterte.
O veterano diplomata americano Thomas Shannon, ex-embaixador no Brasil e ex-subsecretário de Estado no início da administração de Trump, já disse que as relações entre os dois países estavam fora do eixo. Numa linguagem que não faz seu estilo, Shannon comentou o negacionismo eleitoral endossado por Bolsonaro: “É algo que não será facilmente perdoado e não será esquecido”.
Tendo
perdido o farol trumpista, se o governo brasileiro continuar na sua órbita de
realidade paralela, ficará falando sozinho, prisioneiro de suas fantasias. Os
americanos poderão controlar a agenda com um parceiro malcriado.
Lidando
com a pandemia, Bolsonaro investiu-se de poderes que não tem. Como o mercado
brasileiro é grande, ele supôs que os vendedores de vacinas e de seringas
fariam fila à sua porta. Acabou pendurado no imunizante “do João Doria” que
demonizou, garantindo que “NÃO SERÁ COMPRADA” (maiúsculas dele).
A
ideia de que o Brasil está no centro do mundo é pobre. O pelotão palaciano
poderia ir à página 113 do livro “Kissinger e o Brasil”, do professor Matias
Spektor. Ele conta um encontro do secretário de Estado Henry Kissinger com o
chanceler soviético Andrei Gromyko, ocorrido na manhã de 11 de julho de 1975. O
Brasil acabara de assinar um Acordo Nuclear com a Alemanha, e Gromyko estava
preocupado com a possibilidade de o Brasil vir a fabricar uma bomba atômica.(O
embaixador americano em Brasília também desconfiava disso.) O chanceler
soviético queria a ajuda americana para bloquear o projeto: “Vocês estão mais
perto do Brasil geográfica e politicamente”.
Poderia
ter começado uma discussão sobre as características do acordo, mas Kissinger
deu uma resposta curta, de três frases, combinou manter Gromyko informado e
arrematou:
—Tudo
bem. Vamos almoçar?
O Acordo Nuclear foi sumindo, sumindo, e sumiu.
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