Aras
teme instabilidade institucional com a pandemia e diz que processo de crime de
responsabilidade é com Legislativo
O mundo jurídico e político considerou extremamente grave a nota em que o procurador-geral da República, Augusto Aras, acenou com a possibilidade, ou risco, de decretação de Estado de Defesa diante da pandemia e de suas consequências sociais e políticas. Para uns, é um “alerta”. Para outros, uma “ameaça”. Como Aras alertou, o Estado de Calamidade é antessala do Estado de Defesa, mas faltou acrescentar: o Estado de Defesa é a antessala do Estado de Sítio e o Estado de Sítio, antessala das ditaduras.
Pela Constituição, no artigo 136, cabe ao presidente da República decretar o Estado de Defesa para, por exemplo, “restabelecer a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional”. Com a medida, o presidente se autoconcede o poder de determinar pesadas restrições até aos direitos de reunião e aos sigilos de correspondência e de comunicação telefônica e telegráfica.
Portanto,
a pergunta que fica no ar é clara: o procurador-geral da República, apontado
como aliado e defensor do presidente Jair
Bolsonaro, considera seriamente a hipótese de instabilidade
institucional, com crise social, econômica e política e até distúrbios de rua
no País?
Por
telefone, Aras disse que sua intenção “foi alertar que não vivemos um período
de normalidade”. Segundo ele, “a segunda onda da pandemia está vindo muito
forte e devemos ter temperança e prudência para que a pandemia não gere outros
problemas tão ou ainda mais graves”. Na nota, ele deixa no ar o medo de crise
política e institucional ao falar da necessidade de respeitar a Constituição e
as leis para “preservar a estabilidade do Estado democrático”.
Em
Brasília, a interpretação é que Aras sentiu o peso da pressão e refletiu o que
todos sentem neste momento: quanto mais a pandemia se
alastra e faltam vacinas por culpa direta de Bolsonaro, mais
crescem a reação do Supremo e a pressão pelo impeachment do
presidente. O temor é que Bolsonaro tente retaliar com alguma medida de
exceção.
Na
nota, Aras destacou que os processos por crime de responsabilidade de agentes
públicos, inclusive do presidente da República, cabem ao Legislativo, não à
PGR. Boa lembrança, quando os candidatos de Bolsonaro, deputado Arthur Lira (PP-AL)
e senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), são favoritos para as
presidências das duas casas do Congresso. No Senado, aliás, com apoio do PT, o
principal partido de oposição.
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