Tanto na
Câmara quanto no Senado, Bolsonaro aposta alto e joga pesado, para garantir a
sua governabilidade e, também, para avançar na sua agenda de reeleição
O
PSL deixou, ontem, o bloco de apoio ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP),
candidato a presidente da Câmara, apoiado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual
ocupante do cargo, para adensar a candidatura do líder do Centrão, Arthur Lira
(AL), o candidato do presidente Jair Bolsonaro. A mudança se deu porque quatro
parlamentares trocaram de lado, formando uma nova maioria na bancada, com 19
dos 36 deputados.
Foi a mais bem-sucedida manobra de Lira para fortalecer sua candidatura estimulando as dissidências internas nos partidos que apoiam Baleia, que, até agora, vinha sendo pautada por declarações públicas. O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que apoia Rossi, mantém uma queda de braço com o presidente Jair Bolsonaro, que deixou a legenda logo após tomar posse. O grupo dissidente do PSL chegou a apresentar uma lista com 32 assinaturas pedindo a saída do bloco de Baleia, mas dela constavam as assinaturas de 17 deputados bolsonaristas suspensos pelo partido em razão de divergências com Bivar e que não poderiam ser contabilizados.
Com
isso, a candidatura de Lira passa a contar com o apoio de 10 bancadas, que
somam, atualmente, 232 deputados: PSL, PL, PP, PSD, Republicanos, PTB, PROS,
PSC, Avante e Patriota. Permanecem no bloco de Baleia as bancadas de 11 partidos:
PT, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, Cidadania, PCdoB, PV, Rede e Solidariedade, que
também trocou de lado, deixando o Centrão. Com isso, essas bancadas totalizam
236 parlamentares. O problema é que essa contabilidade formal não reflete os
acordos de bastidores, que são individuais.
O
deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), candidato avulso, que conta com apoio no baixo
clero da Câmara, tem se queixado das pressões do Palácio do Planalto para que
seus aliados declarem voto a favor de Lira. A polarização complica muito a
situação, também, para a candidata do PSol, Luiza Erundina (SP). Marcelo Freixo
(RJ) e mais quatro dos 11 integrantes da bancada defenderam o apoio à “frente
ampla” liderada por Baleia Rossi.
A
candidatura de Lira sempre manteve vantagem em relação a Baleia, mas o
agravamento da crise sanitária e a queda da popularidade do presidente
Bolsonaro contribuíram para embaralhar a disputa. Em contrapartida, a campanha
do impeachment iniciada pela oposição está sendo explorada por Lira, para obter
mais apoio do Palácio do Planalto, o que se traduz em mais verbas e cargos,
além de retaliações, no caso daqueles que tinham boas relações com o governo,
mas são aliados de Baleia.
Além
disso, velhos cardeais da Casa estão operando para fortalecer a candidata do
MDB, Simone Tebet (MS). José Serra pressiona os senadores do PSDB que apoiam
Pacheco, liderados por Izalci Lucas (DF), enquanto o tucano Tasso Jereissati
(CE) tenta atrair o PDT, a partir de suas relações com Cid Gomes (CE). No MDB,
o senador Renan Calheiros (MDB-AL) desembarcou em Brasília para evitar a
“cristianização” de Tebet por senadores emedebistas. O gesto é emblemático,
porque Tebet não apoiou a candidatura de Renan contra Alcolumbre. Além disso,
os caciques da legenda esperavam apoio do Palácio do Planalto à candidatura do
líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PE), o que não ocorreu.
Tanto na Câmara quanto no Senado, o Palácio do Planalto aposta alto e joga pesado, não apenas para garantir a governabilidade do presidente Jair Bolsonaro, mas, também, para avançar na sua agenda de reeleição. O ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que a vitória dos aliados do governo permitirá que envie para o Congresso sua proposta de reforma tributária, cujo eixo é a criação de um imposto sobre operações financeiras. Essa proposta seria acompanhada do projeto de Renda Cidadã, que substituiria o Bolsa Família e, em tese, garantiria apoio popular para a reeleição de Bolsonaro.
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