Costumamos
olhar para o favelado como alguém que tem muito a aprender. Em parte, isso é
verdade. Os mais pobres precisam de escolas de qualidade, de capacitação
profissional, de educação financeira, de mais acesso à cultura. Porém a favela
também tem muito a ensinar, inclusive para o andar de cima.
Na
última semana, encerramos os trabalhos da primeira turma do Hawks, curso de
formação da Gerando Falcões sobre a agenda social do país. Pudemos discutir as
várias faces do abismo social brasileiro e estudar exemplos mundiais
bem-sucedidos de políticas sistêmicas para a redução da pobreza e o combate às
desigualdades.
O
Hawks é como um MBA em assuntos sociais. Acontece que esse MBA é voltado a
jovens das principais famílias empresariais do Brasil. Além de filhos e filhas
de quem tem capital e influência social, eles são empreendedores, executivos,
arquitetos, criadores, que podem impactar a sociedade com seu conhecimento.
Como
assim, Edu? Um curso da favela para gente endinheirada?
Isso mesmo. O Brasil não vai mudar enquanto não tivermos uma elite realmente participativa. Precisamos alcançar esses jovens que já têm poder econômico e trabalhar para que eles desenvolvam também poder social. Ou seja, capacidade e disposição para construir soluções, para mudar a realidade do país.
Elite
é uma palavra que tem má fama. Faz as pessoas torcerem o nariz. Mas é preciso
diferenciar o que é ser da elite e o que é ser simplesmente rico.
Para
ser rico, basta ter muito dinheiro. Brinco com a ideia de que há pessoas tão
pobres que tudo o que têm é dinheiro. O rico é alguém que vive apartado da
realidade. Não dá as caras, não coloca a mão na massa e, consequentemente, não
tem projeção social. Tanto é assim que o rico costuma ser inacessível. Se
tentamos contato, conseguimos no máximo falar com algum de seus assessores,
sempre de prontidão para negar nossos pedidos. O rico é uma pessoa blindada.
Desconhece seu próprio país e não se interessa em melhorá-lo.
Elite
é outra coisa. É quem utiliza seu capital em prol da transformação social. É
quem influencia o debate público, propõe soluções, faz filantropia. A elite
exerce plenamente a cidadania, pois utiliza sua posição privilegiada para
combater desigualdades e preservar a democracia. Ela se envolve na vida do país
e, em troca, a sociedade a escuta.
A
elite não acumula aquilo que recebe. Ela processa, aprimora e redistribui. Isso
vale para qualquer coisa: conhecimento, tecnologia, networking, capital
político, doações, dinheiro. A elite entende que riqueza que não circula é
riqueza morta, estéril, o que vai contra seus próprios interesses.
Precisamos
urgentemente converter mais ricos em elite. Um curso de formação como o Hawks
busca formar líderes ainda mais capacitados para intervir na realidade social.
Gente disposta a sujar o sapato nas vielas da favela. Afinal, só quem conhece
de perto um problema poderá um dia fazer parte da solução.
Precisamos, sim, da elite, e não de gente que sonha apenas em acumular dinheiro. A favela quer a parceria de quem busca construir um novo projeto de país, mais acolhedor e solidário.
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