O
governo Bolsonaro está descolado dos brasileiros na área ambiental e climática.
Empresas anunciam compromissos de zerar emissões, de fiscalizar sua cadeia
produtiva, porque isso é um diferencial competitivo. Governadores fazem pontes
com governos e empresas. Bolsonaro estrangulou o orçamento dos órgãos
ambientais, um dia depois de dizer ao mundo que os fortaleceria. Ontem, na
Câmara dos Deputados, o delegado Alexandre Saraiva, da Polícia Federal, mostrou
provas explícitas da ilegalidade da madeira que o ministro Ricardo Salles diz
que é legal. “O ministro tornou legítima a ação de criminosos”, disse Saraiva,
que foi exonerado da Superintendência.
O
engenheiro Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, observou esse descolamento
entre o governo e a sociedade.
— Temos algo acontecendo aqui. A sociedade está fervilhando, o mundo inteiro está olhando para isso. No setor empresarial, do segundo semestre do ano passado para cá, todos os conselhos passaram a falar sobre o tema, querendo entender. Saiu do nível de gerente, foi ao CEO e chegou ao conselho. Várias empresas estão assumindo compromissos e alguns são bem fortes — diz.
Está
curioso ver, exemplifica Tasso, a corrida entre as três maiores empresas
produtoras de proteína animal, JBS, Marfrig e Minerva:
—
Parece que as três estão disputando quem acaba primeiro com as suas emissões. A
carta dos 200 CEOs pedindo mais ambição nas metas, tudo está indo nessa
direção.
Algumas
empresas sempre estiveram nessa trilha, como a Natura. Mas são muitas as
companhias que sabem que precisam anunciar metas, verificáveis, prestar contas
do esforço que estão fazendo.
O
governo federal, apesar do que Bolsonaro disse na reunião de cúpula, segue o
seu projeto de desmonte do Ibama, do ICMBio, e até da PF. No Congresso,
tramitam projetos perigosos, como o que enfraquece o licenciamento ambiental e
regulariza terras roubadas. O depoimento do delegado Saraiva mostra que 70% da
madeira apreendida na operação Handroanthus, que Salles diz ser madeira legal,
não apareceu nem o suposto dono para reclamar. Há casos de falsificações
grosseiras nos documentos. Esse é o projeto do governo Bolsonaro de legalizar o
crime. Mas não é o da maioria do povo brasileiro, não é o das grandes empresas,
nem dos grandes bancos. O capital converteu-se? Não. Ele está falando de
negócios, como sempre. No mundo de hoje, produção ambientalmente suja não é
financiada, não tem clientes, perde a competição.
Os
governadores fizeram dois movimentos inteligentes. Primeiro, na carta ao
presidente Biden lembraram que construíram mecanismos em suas administrações
para a cooperação internacional. Segundo, o consórcio dos estados da Amazônia
celebrou a divulgação da Leaf Coalition, tão logo foi lançada. Essa iniciativa
vem sendo costurada há algum tempo por um grupo de países — Estados Unidos,
Reino Unido e Noruega — e de empresas internacionais.
—
O Leaf começou em várias frentes e a Amazon esteve bem envolvida no começo. Foi
montado um grupo de trabalho. A plataforma se parece com a do Fundo Amazônia,
mas em escala global. Cria-se uma linha de base para mostrar a partir desse
ponto a queda do desmatamento e há um conselho independente para acompanhar os
compromissos. Os países podem se inscrever, mas também os estados, as regiões,
para angariar fundos. Os estados brasileiros estão fazendo isso. Vale a partir
de 2022, mas em comparação com os cinco anos anteriores — diz Tasso.
Pelo
que se sabe, já foi fixado até o preço da tonelada de carbono, num valor acima
do que era calculado o Fundo Amazônia. Uma empresa como a Microsoft, por
exemplo, que quer zerar suas emissões — não apenas as de agora, mas as que
emitiu ao longo da sua história — tem muito a comprar nesse mercado.
Os
governadores da região Norte já estavam em contato com os organizadores e por
isso no próprio dia do anúncio o governador Flávio Dino, presidente do
Consórcio dos Estados da Amazônia Legal, saudou o lançamento da “nova aliança
público-privada Leaf Coalition”.
A sociedade, as empresas, os bancos, os governos estaduais estão se conectando com o mundo e a agenda da preservação ambiental. Bolsonaro e seu ministro fazem seu trabalho de demolição das florestas tropicais, e de legalização do crime, descolados do mundo e do próprio Brasil.
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