Há
menos internados, mas Covid está mais letal, assim como o governo e cúmplices
Em
São Paulo, no estado e na cidade, o número de internados em UTIs de Covid
praticamente parou de aumentar. Ficou estável no pico
do horror, por ora. Mas o monte de cadáveres ainda não tem limite. A doença
agora parece muito mais letal, cresce sem parar no país quase inteiro. Com
tamanha disseminação do vírus, a próxima onda talvez seja a de criação de
variantes que vençam as vacinas
que existem, mas nem chegam ao país em número bastante. Seria a epidemia
sem fim.
Enquanto isso, o que foi feito do “pacto”, do “comitê nacional” contra a Covid, a farsa funérea encomendada por Jair Bolsonaro a fim de desviar a atenção de seus crimes? O capitão da extrema direita continua a fazer campanha contra medidas de controle da doença, desde o dia do “pacto”.
O
novo ministro da Justiça tomou
posse fazendo uma saudação à bandeira da morte bolsonarista. Disse que
“neste momento, a força da segurança pública tem que se fazer presente
garantindo a todos um ir e vir sereno e pacífico” e “precisamos trazer de volta
a economia deste país, precisa colocar as pessoas para trabalhar".
Nesta
terça-feira (6), a Câmara passou o dia discutindo o projeto fura-fila dos empresários
bolsonaristas, que pretendem comprar vacinas para suas empresas, alguns
querendo que o governo pague por isso, por meio de desconto de impostos.
Cadê
um conselho nacional de especialistas variados que elaborassem uma estratégia
nacional de combate à epidemia? Cadê o acordo nacional de cooperação federativa
para lidar com o vírus (União, estados, municípios)?
Não
tem. Era tudo farsa. O comando do Congresso é cúmplice.
No
salve-se quem puder, se multiplicam as medidas judiciais de associações
profissionais, de empresas, de sindicatos etc. com o objetivo de comprar
vacinas para si, o que desorganiza o plano nacional de prioridades (aliás, já
avacalhado) ou um método qualquer de usar a vacina escassa do modo mais eficaz.
Ainda
mais escandaloso, a insinuação de que empresas possam comprar e trazer vacinas
em menos de um mês mostra que o governo é ainda mais inepto e criminoso do que
já sabemos ou também que empresários querem passar a perna no público. Se sabem
onde arrumar vacinas, por que não contam?
Como
não há governo, não pode haver confiança em governança da epidemia ou em
qualquer outra política. O país não
terá Censo, o que desorganiza o sistema de estatísticas e planejamento. O
país não
tem Orçamento. Essa coisa que foi aprovada com esse nome, “Orçamento”, é um
arranjo mutante entre centrão e governo, instrumento para facilitar a reeleição
de parlamentares e presidente, com uma cláusula implícita de que Bolsonaro não
será processado por mais um crime de responsabilidade, agora fiscal.
A
epidemia parece mais mortífera, para voltar ao assunto principal. A
desaceleração do número de internações em UTI pode ainda ser uma esperança de
que, a seguir, o morticínio também
perca velocidade. Ainda não foi o que se viu, como no caso de São Paulo. Ao
contrário. A desaceleração nas UTIs é uma tendência desde o 21 de março. Mas o
número de mortes em relação ao total de internados em terapia intensiva é,
desde a semana final de março, o maior em toda a epidemia, em alguns dias o
dobro da média que se viu até fevereiro deste ano. O vírus parece matar mais,
mas nem sabemos bem o motivo.
Bolsonaro trata de se imunizar. Faz o acordo com o centrão, agora tenta refazer pontes com empresários —vai tentar jantá-los nesta quarta-feira, quando ouvirá de alguns o lobby pela vacinação privada. “Um país normal”.
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