O Globo
Depois de dizer na live de
quinta-feira "caguei para a CPI" da Covid-19, o presidente
Jair Bolsonaro chamou o ministro Luís Roberto Barroso, que está no comando do
Tribunal Superior Eleitoral, de "imbecil", por ser contra a volta do voto impresso.
O presidente, assim, mantém o tom de confronto, mesmo diante do recorde de
rejeição ao seu governo, segundo pesquisa do Datafolha. A mesma que apontou que o
ex-presidente Lula ampliou sua vantagem em uma eventual disputa com
Bolsonaro à Presidência.
A agressividade foi mostrada em pronunciamentos voltados diretamente para o público: os que assistem ao presidente nas noites de quinta-feira nas redes sociais e os apoiadores que o esperam no Palácio da Alvorada. Seria uma forma de manter a base bolsonarista mobilizada, para continuar com chances de disputar a reeleição em 2022. Mas há um problema para Bolsonaro apontado no Datafolha, quer ele reconheça ou não a veracidade do levantamento: a base pode estar indo embora.
O instituto aponta um êxodo de seis pontos
percentuais de entrevistados que, até março, estavam entre os que consideravam
o desempenho do chefe de governo bom ou ótimo. Ao longo de cinco meses, esses
seis pontos passaram a considerar a performance do presidente regular, para em
seguida se colocarem no lado dos que o avaliam como ruim e péssimo.
Na pesquisa do fim da primeira quinzena de
março, 30% dos entrevistados diziam que o governo Bolsonaro era ótimo ou bom. O
percentual cai seis pontos em maio, e fica estacionado no mesmos 24% no
levantamento divulgado na quinta-feira. Enquanto isso, entre março e maio, o
número dos que avaliavam Bolsonaro como regular pulou exatamente seis pontos,
de 24% para 30%. E agora, voltou a 24%. Os que consideravam o governo ruim ou
péssimo em março eram 44%, o que pouco difere dos 45% apontados em maio. Mas o
contingente saltou para 51% no novo Datafolha.
Se Bolsonaro, como se viu na expressão
fecal sobre a CPI ontem, e no insulto ao presidente do TSE hoje, continua o
mesmo, o que mudou a partir de março? A taxa de desemprego escalou um nível recorde no
trimestre que terminou em abril e lá se mantém. A vacinação contra a Covid, que
começou em dezembro, passou a andar mais rápido e a mostrar seus efeitos. Mas os trabalhos da CPI da Covid podem ter reforçado uma impressão na
população que já estava latente: a imunização acontece não por causa, mas
apesar do presidente.
Assim como esses seis pontos percentuais de
apoio se foram, podem voltar no segundo semestre. Ou se ampliar. As indicações
mais fortes são de que isso dependerá de como os brasileiros se lembrarão da
atuação de Bolsonaro sobre a vacina, quando a imunização terminar. E da
evolução da taxa de desemprego. E para onde irão as investigações de suspeita
de corrupção na compra de vacinas pela CPI. Brigar por voto de papel ou xingar
não parece fazer muita diferença nesse quadro.
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