Folha de S. Paulo
Ainda não há sinal de redução de eficácia
para quem foi totalmente vacinado
As pessoas totalmente vacinadas contra a
Covid-19 morrem bem menos do que aquelas que tomaram apenas uma dose ou
nenhuma. É difícil ver nos números a perda de eficácia
da imunização, o assunto da moda (pelo menos por enquanto, a julgar pelos
dados do estado de São Paulo até a semana encerrada na sexta, dia 20).
Essas informações não bastam para dizer
algo decisivo sobre a discussão
da terceira dose, mas colocam uns grãos de sal nessa querela, ainda mais em
um país que até agora vacinou apenas 27% da população (34%, no caso paulista).
A OMS diz que ainda é cedo para dar o reforço quando tanta gente não foi
imunizada.
Em São Paulo, o número de mortos por Covid-19 entre as pessoas de 60 anos ou mais nas semanas de agosto é cerca de 17% MENOR do que o registrado na semana encerrada em 12 de fevereiro deste 2021. Na faixa dos 50, quase 60% MAIOR. Mais de 95% das pessoas com 60 anos ou mais foi totalmente vacinada (duas doses ou dose única da Janssen). Entre as pessoas da casa dos 50 anos, 60% foram totalmente vacinados. Para os mais jovens, ainda menos imunizados, o número de mortes é de duas a quatro vezes maior do que em fevereiro.
Por que a comparação com fevereiro? Porque
então a vacinação ainda não fazia efeito algum (começou muito timidamente em 17
de janeiro).
Esses números sugerem que a vacinação
completa faz efeito, mas não são tranquilizadores nem servem para cravar
decisões sobre doses de reforço.
Primeiro, especula-se, com base em
evidências muito parciais, que o efeito da vacina começa a cair depois de seis
meses (após a segunda dose ou da injeção única), talvez depois de oito meses.
Logo, aqui em São Paulo essa degradação da eficácia da vacina começaria a ser
sentida lá por setembro, e olhe lá (pois a proteção não desaparece, apenas
diminui um pouco).
Segundo, nota-se que a redução do número de
mortes de agosto ante fevereiro não foi lá muito grande, embora o morticínio
venha diminuindo progressivamente com a disseminação da vacina, mesmo que
apenas a primeira dose e com o quase fim do distanciamento.
O que houve? Pode ser que doença tenha se
tornado mais letal (há indícios frágeis, como mais gente morta por número de
casos ou de internados em UTIs). É certo que o distanciamento social diminuiu,
com o que mais gente pode ter sido exposta a grandes cargas de vírus. Pode ser
que o espalhamento insidioso da variante
delta esteja impedindo progresso maior na redução do número de mortes.
Não se sabe.
O que está evidente nos números paulistas é
que pessoas totalmente vacinadas na média morrem menos do que antes da vacina,
em fevereiro, baixa aproximadamente igual para todos os grupos de idade a
partir de 60 anos.
Está claro também que algo acontece no Rio.
Pode ser que características do estado propiciem a disseminação de uma delta
assassina (a associação de turismo, sociabilidade, demografia, condições
sociais e algum acaso). É um alerta, assim como o que se passa na Europa (que,
no entanto, começou a vacinar muito mais cedo).
Isto posto, cientistas, médicos e
autoridades precisam explicar melhor vantagens e desvantagens da alternativa
("trade off") entre antecipar a terceira dose e completar a vacinação
dos parcialmente imunizados. São Paulo, por exemplo, ainda vai levar uns dois
meses para vacinar todo o mundo que pode tomar a injeção.
Talvez seja o caso de reservar doses para
pessoas com baixa imunidade e idosos vacinados faz muito tempo, o que não
comprometeria o programa geral de imunização. Mas, seja qual for a estratégia,
os motivos e o plano ainda estão muito mal explicados.
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