Folha de S. Paulo
Cultura de segurança em torno da aviação
comercial reduziu significativamente as taxas de desastres com mortes
Parte dos liberais tem vontade de sacar o
revólver só de ouvir a palavra "regulação", mas há situações em que
ela funciona exemplarmente. Um dos setores mais regulados do mundo,
especialmente no quesito segurança, é a aviação comercial. E, apesar de ainda
ocorrerem acidentes
trágicos como o do avião que caiu em Vinhedo (SP), eles são cada vez
mais raros.
Em 1959, registravam-se 40 acidentes com mortes para cada milhão de voos nos EUA. Dez anos depois, a cifra havia caído para menos de 2 e hoje baixou para 0,1. Os números para outras regiões do planeta não são os mesmos, mas a curva de redução é semelhante.
Vários fatores contribuíram para a melhora. A
tecnologia é fundamental. Não foram só os aviões que ficaram melhores e mais
seguros. O mesmo ocorreu com os sistemas de controle de voo e com o treinamento
de pilotos, que passaram a dispor de simuladores. Com eles, tornou-se possível
aprender errando (a forma mais efetiva de aprendizado) e sobreviver à
experiência.
Igualmente importante, desenvolveu-se uma
cultura de segurança entre os principais atores. Cada acidente e
cada incidente (situação de risco que não vira desastre) são minuciosamente
investigados, num processo do qual participam todos os interessados (empresas
aéreas, fabricantes, sindicatos de pilotos etc.) e que não tem implicações
judiciais.
As conclusões dos especialistas se convertem
em recomendações que são incorporadas à indústria, tanto no desenho das
aeronaves como nos protocolos de segurança e no treinamento de pessoal.
Não dá para afirmar que não existem conflitos de interesse entre os principais
atores, mas as divergências não parecem capazes de desfazer o casamento entre
ciência e regulação inteligente que conseguiu reduzir as taxas de desastres.
Seria interessante levar algo dessa cultura
para a prevenção de acidentes de
trânsito, que, no Brasil, ainda matam mais de 30 mil pessoas por
ano.
3 comentários:
maravilha! MAM
Excelente análise. Normas racionais e fiscalização eficiente melhoram muito qualquer atividade. Aliás, é o que falta em tantos setores no país...
O trânsito ainda mata 50 mil/ano nos EUA.
Postar um comentário