sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Marcos Augusto Gonçalves - Cadeirada de Datena não atinge eleitor

Folha de S. Paulo

Repetição do resultado reforça hipótese de segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos

cadeirada desferida pelo candidato José Luiz Datena em Pablo Marçal não atingiu as intenções de voto registradas pela mais recente pesquisa Datafolha, em São Paulo. Os números repetem o cenário da sondagem anterior, com o prefeito Ricardo Nunes numericamente à frente (27%), seguido por Guilherme Boulos (26%), e o clown Pablo Marçal (19%) na rabeira.

A hipótese de um segundo turno entre Nunes e Boulos ganha mais fundamento com a repetição do resultado. Reforça a hipótese de que os dois passem para a nova etapa o fato de que repetem de certa forma o confronto histórico entre direita e esquerda como nos tempos de tucanos contra petistas. A ver.

As especulações sobre o que poderia acontecer após a cadeirada, sem base que as sustentassem, iam desde uma melhora de Datena ou Marçal a um crescimento de Tabata Amaral, que poderia ser percebida por parte do eleitorado feminino como uma alternativa ao machismo tóxico presente no episódio. Ela não cresceu, mas seus eleitores estão mais satisfeitos. Já Marçal, que é o ponto fora da curva das candidaturas, com sua estupidez contumaz, vai vendo seu índice de rejeição disparar (47%).

No final das contas, além da decisão de aparafusar cadeiras em novos confrontos, o que de melhor o caso produziu foram memes, piadas e comentários, alguns realmente divertidos. Sim eu sei, devemos condenar a violência, mas encarar o assunto com humor faz parte.

No novo episódio do podcast Bocas de Urna, que estará no ar nesta sexta (20), as jornalistas Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello e este colunista debatemos sobre até que ponto a cadeirada poderia ser vista como sintoma de uma crise do formato debate de TV causada pelo vale-tudo das redes digitais.

O fato é que o mundo digital tem influência relevante –basta ver como todos os candidatos convidam o espectador a visitar suas postagens–, mas a baixaria não é novidade. Se o debate de TV surgiu em outro momento da esfera pública (o primeiro reuniu Nixon contra Kennedy, em 1960), os parâmetros atuais da arena política não chegam a mudar este modelo radicalmente ou torná-lo superado.

Nas minhas elucubrações sobre o tema, não pude deixar de lembrar de um clássico da arte conceitual, a obra "Uma e Três Cadeiras", de Joseph Kosuth, artista nascido nos EUA –país que, aliás, consagrou no cinema as cenas de cadeiras voando em brigas de saloon.

O trabalho, de 1965, consiste na apresentação de três peças. Ao centro vemos uma cadeira propriamente; à esquerda de quem olha, fixada na parede, uma fotografia da cadeira; e, à direita, a reprodução ampliada de um verbete de dicionário que define o significado da palavra cadeira.

Temos então uma versão do objeto físico, uma representação fotográfica do mesmo objeto e, por fim, sua definição linguística. A obra deu panos para manga e inscreveu o nome do autor na história da arte do século 20.

Casualmente tive a oportunidade de conhecer Kosuth em São Paulo, quando veio participar da exposição The Overexcited Body, no Sesc Pompeia, em 2001, com curadoria de Adelina von Furstenberg. Entre outros programas, fomos levá-lo para conhecer um pouco da noite paulistana –mas ‘à la grande’, com uma visita ao velho e inexcedível Love Story. Bem, mas isso é uma outra história.

 

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