sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Andrea Jubé - Sucessão em dois tempos: presente e futuro

Valor Econômico

Considerar a sucessão de Lira jogo jogado é um erro e um risco

Para usar as palavras de um assessor que despacha no Palácio do Planalto, o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), “a preço de hoje, está eleito presidente da Câmara”. E com a simpatia de uma ala expressiva do governo, que incluiria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não é bem assim”, retrucou um importante deputado do PT, ao ouvir da coluna as palavras proferidas pelo assessor palaciano. Este parlamentar petista argumentou que depois de se reunir com Motta, Lula e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, receberam em seus gabinetes os adversários dele na corrida sucessória, os dois líderes baianos Elmar Nascimento, do União Brasil, e Antonio Brito, do PSD.

Além da simpatia de Lula - apesar do passado entrelaçado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, “pai do impeachment” - Motta tem cabos eleitorais ostensivos no governo, como os ministros Silvio Costa Filho (Republicanos), de Portos e Aeroportos, articulador de sua candidatura, e Renan Filho (MDB), dos Transportes. Em outra frente, Elmar e Brito batalham pelo apoio do titular da articulação política, Alexandre Padilha, e do chefe da Casa Civil, Rui Costa.

O mesmo assessor presidencial ressaltou que sua avaliação traduz a conjuntura atual, em que Hugo Motta já reuniria votos suficientes para suceder a Arthur Lira (PP-AL) na direção da Casa. Citou a máxima antiga, mas sempre atual, atribuída ao ex-governador mineiro Magalhães Pinto: “Mas a política é como nuvem”, hoje está de um jeito, amanhã ninguém garante o mesmo céu.

A configuração pela qual o líder do Republicanos estaria eleito hoje para o lugar de Lira pressupõe um “acordão” entre governistas e oposição, em que o PL de Jair Bolsonaro, com 92 deputados, indicaria o Primeiro Vice-Presidente da Câmara, e à federação PT-PCdoB-PV, com 80 integrantes, caberia a Primeira Secretaria - segundo cargo mais importante na hierarquia da Mesa Diretora.

Porém, como em toda corrida com obstáculos, há pedras no caminho nas quais os competidores podem tropeçar. A maior delas é a pressão cada vez mais explícita do PL para que o postulante à vaga de Lira declare-se favorável ao projeto de lei que anistia os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, que atentaram contra a democracia e depredaram as sedes dos três Poderes.

Um gesto que poderá consolidar os votos do PL, mas que de outro lado, terá o condão de afastar o eventual apoio da federação petista. Nesse quesito, Elmar deu uma no cravo e outra na ferradura. Para acenar à bancada bolsonarista, indicou o relator do projeto, favorável à matéria, Rodrigo Valadares (SE). Em contrapartida, no dia da apreciação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), articulou para que os deputados do União acompanhassem a obstrução governista para adiar a votação. Republicanos e PP, que estão com Motta, acompanharam o relator.

Outra pedra que entrou no sapato dos concorrentes foi o processo aberto no Conselho de Ética para cassar o mandato do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), acusado de quebra de decoro pela agressão a um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) no dia 16 de abril no prédio da Câmara. Em sua defesa, Glauber alegou que reagiu à provocação do militante do MBL, que teria a intenção de fazer “cortes de vídeos” nas redes sociais para expô-lo como um político “agressivo”.

O deputado do PT alertou que a postura dos candidatos sobre o processo de cassação de Glauber influenciará a posição da federação na sucessão de Lira. Observou que Elmar será testado porque seria capaz de influenciar os três deputados do União no Conselho de Ética. O partido tem o presidente do colegiado, Leur Lomanto Júnior (BA), um titular, Alexandre Leite (SP), e um suplente, Rafael Simões (MG). Leite já reclamou da conduta de Glauber no dia da sessão no Conselho, e disse que cogita pedir a suspensão cautelar do mandato do colega.

Aliados de Glauber atuam para evitar a cassação e, se não for possível evitar alguma punição, que se apliquem penas alternativas, como uma advertência ou a suspensão temporária do mandato. Por todos esses fatores, considerar a sucessão de Lira jogo jogado é um erro e um risco.

Sucessão em 2026

Se o debate prematuro sobre o sucessor de Arthur Lira deixa os deputados eriçados, a sucessão de Lula é outro tema que gera desassossego. O mesmo assessor palaciano que vê Hugo Motta sentado na cadeira de Lira “a preço de hoje”, considera Lula o candidato favorito à sucessão presidencial, com PSB e MDB disputando, desde já, a vaga de vice na chapa petista.

Este auxiliar presidencial ressalta que Lula considera o atual vice e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, do PSB, um aliado de lealdade e dedicação inatacáveis, e não fará nenhum gesto que o contrarie. Somente se apetecer ao aliado, seria oportuno ele disputar uma das duas vagas ao Senado por São Paulo. Alckmin é visto como um dos poucos quadros competitivos pelo campo político de Lula para concorrer à cadeira de senador pelo Estado.

Porém, se o PSB perder a vaga de vice de Lula, duas lideranças em ascensão no MDB cobiçam o posto. O governador do Pará, Helder Barbalho, e o ministro dos Transportes e senador licenciado por Alagoas, Renan Filho. O primeiro ganhou projeção internacional com a realização da cúpula mundial do clima (COP 30) em Belém, em 2025, e valorizará o passe se o evento for um sucesso. E Renan atua para se cacifar como um dos melhores ministros de Lula. Tudo isso, entretanto, são cenários traçados nos bastidores porque a política é como nuvem.

 

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