O Estado de S. Paulo
Lula disse, na sexta, que Tarcísio de Freitas
é nada sem Jair. Em entrevista à Itatiaia, tratou o governador de São Paulo
como boneco do ex-chefe, que “vai fazer o que Bolsonaro quiser”. O presidente
torce para que assim seja. Não é apenas torcida. Também caracterização do
oponente.
É o sonho de Eduardo Bolsonaro – que Tarcísio
vire cavalo e seja, incorpore, o que os Bolsonaro quiserem. Sonhar custa nada.
Desconfiar tampouco, já que o chamado Centrão prepara a sela do cavalo que se
oferecerá à montaria de Tarcísio. Ele vai?
O bolsonarismo não confia. Eduardo tem certeza. Certeza de que Tarcísio vai. Certeza também de que Tarcísio nada será sem – mais que Bolsonaro – o bolsonarismo. Por via das dúvidas, trabalha para que Trump não perceba que existe alternativa à família. Todos – adversários, aliados, filhos – se organizando em função do pós-Bolsonaro. Jair, afinal, não disputará a eleição no ano que vem.
Mais cedo na semana passada, Lula
estabelecera Tarcísio como o seu rival em 2026. Preferiria enfrentar um
Bolsonaro. Sabe que a chance é pequena. Pau, pois, no governador. Tudo
articulado. A constituição do oponente – a consagração da “direita permitida” –
como movimento pensado para alimentar os ataques bolsonaristas contra o “novo
PSDB”.
Lula surfou a onda; investiu na ampliação da
superfície da vidraça de Tarcísio, mesmo estando ele quietinho. Quase
quietinho. O homem, o escolhido do sistema, direita autorizada por Lula,
apanhando de todo o lado, mesmo sem ter colocado o queixo para soco. O
presidente escolhe o adversário e expõe o “tucano” ao bolsonarismo. Deixa o
vestiário rachar ainda mais. Depois, classifica o escolhido como fraco,
dependente de Bolsonaro – e torce para que ele resolva provar a própria
independência.
Eduardo se escolhe como o desafiante de Lula.
Seria forma de enfrentar o “direcionamento para apagar a família Bolsonaro do
cenário político”. Só o seu pós-Bolsonaro, puro-sangue, é legítimo. E ele está
disposto a enfrentar o comando do pai ingrato; que errou demais e continua
errando – éo que se lê em seus movimentos desde os EUA. Não teria dificuldade
em abrir, encarnar, uma dissidência.
“Se o meu pai não puder se candidatar, eu
gostaria de ser o candidato. Se Tarcísio vier para o PL, não terei espaço”,
falou ao Metrópoles. Mudaria de partido. Faria esse sacrifício pela causa.
Assumiria uma anticandidatura... Para denunciar a ditadura. Para minar
Tarcísio. Para manter o controle sobre o bolsonarismo. Perder – e conservar a
liderança. A eleição, como expressão de normalidade, é perigo para o
bolsonarismo. Eleição – com vitória de Tarcísio – é virada de página; é
Bolsonaro encostado; é família fora do jogo.
Bolsonaro encostado, com sorte indultado, talvez seja desfecho inevitável. Família fora do jogo, jamais. Rei morto, rei posto. Eduardo está propondo a superação bolsonarista de Bolsonaro. O pós-Bolsonaro permitido.
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