Deu a louca nos preços dos ativos, novamente. Desde 2008 tem sido assim. Há temporadas de nervosismo. O dólar sobe em todos os países. O euro bateu no seu mais baixo nível em dois anos. No Brasil, o dólar subiu 22% em três meses. O índice Ibovespa esteve em alta de 20,5% até 3 de março. De lá para cá, perdeu tudo o que ganhou e foi para o vermelho em 3,8%.
O que aconteceu desta vez? Nada de novo no front, exceto a mesma e profunda incerteza e a abundante liquidez. Com muito dinheiro circulando atrás de proteção, e a conjuntura em deterioração, os capitais entram e saem de mercados, moedas e países, e isso produz a volatilidade. O nervosismo decorrente das perdas alimenta mais aversão ao risco e produz movimentos que agravam as quedas.
O temor de que a Grécia saia do euro ficou mais forte ontem. Circulou a informação de que, durante a reunião de ministros das finanças do bloco monetário, discutiu-se diretamente sobre um plano de contingência para o cenário de a Grécia sair da união monetária. Para piorar o pessimismo dos investidores, a reunião de cúpula europeia não trouxe, no primeiro momento, qualquer sinal de concordância. O Bundesbank avisou que qualquer flexibilização extra do pacote de ajuda à Grécia é inaceitável. A situação política no país está cada vez mais confusa. Se a Grécia deixar o euro, cada economia sofrerá um impacto diferente.
A Espanha tem o calcanhar de aquiles que é um sistema bancário fragilizado pela desvalorização dos imóveis. O governo espanhol disse que vai aumentar os aportes no Bankia. As ações do banco já caíram mais de 50% este ano. Socorrer banco a esta altura dos acontecimentos vai pressionar mais ainda o déficit púbico da Espanha.
As ações dos bancos dos países mais frágeis da Zona do Euro estão em queda forte, mesmo se a instituição em si for saudável. O Santander caiu 19,28%; o Bilbao Vizcaya, 24,61%; enquanto o Banco Popular Espanhol despencou 45,51%.
Os efeitos da crise também aparecem nos bancos franceses. O Crédit Agricole perdeu 29% do seu valor de mercado este ano; o BNP Paribas, 12%; e o Société Générale, 6,5%. O cenário é parecido na Itália. A ação do UniCredit caiu 41% este ano; e a do Intesa Sanpaolo, 20,87%.
A queda brusca do real está afastando ainda mais o investidor externo, que perde na queda da bolsa e na conversão para o dólar. As trancas que o governo colocou nas portas de entrada de capital - quando o dólar estava fraco demais - não funcionaram naquela época, mas acentuam o movimento agora que a onda é de desvalorização da moeda brasileira.
O dólar se valorizou 22% frente o real desde o dia 28 de fevereiro. Saiu de uma cotação de R$ 1,70 para R$ 2,08, no fechamento de terça-feira. Chegou a bater em R$ 2,10, ontem, e só não subiu mais porque o Banco Central atuou mais um vez no mercado de câmbio, provendo liquidez no mercado futuro.
Além da crise da Europa, que retira dólares do Brasil, pesa sobre o mercado de câmbio a percepção de que o governo desta vez não vai deixar o real se valorizar novamente, caso a situação melhore. Com isso, as empresas que têm muitas dívidas em dólares, temendo que esse novo patamar da moeda americana vai ser prolongado, estão correndo para o mercado de câmbio em busca de proteção. Elas fazem os chamados contratos de hedge, mas a consequência inicial disso é aumentar ainda mais o valor do dólar, com a elevação da demanda pela moeda americana. O Banco Central não está defendendo um suposto teto do câmbio, mas, nesses momentos de extrema volatilidade, tem vendido dólares para atenuar a virada brusca.
- A queda do real é resultado das medidas adotadas pelo governo e do agravamento da crise, em si, que afasta o capital especulativo, de curto prazo, do Brasil. Esses recursos deixam as bolsas e procuram um ambiente mais seguro, como o dos títulos do Tesouro americano - disse o analista Felipe Queiroz, da Austin Rating.
Segundo o Itaú Unibanco, o BC vendeu US$ 2,85 bilhões na sexta-feira e na terça-feira, por meio de swaps reversos. Ontem, o BC entrou novamente e isso deteve a alta do dólar. A bolsa reduziu as perdas, de -3,5% para -0,76%. Confira no gráfico abaixo o pico de alta do ano e a queda atual de algumas das ações de empresas brasileiras. O ambiente continuará assim, volátil.
FONTE: O GLOBO
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