Os advogados de defesa não têm o que dizer nem o que fazer diante da
consistência das decisões já tomadas pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento do mensalão.
Pouco ou quase nada lhes resta além de anunciar recursos a cortes internacionais.
Com isso, fornecem algum discurso político a seus clientes, mas na prática a
ideia equivale mais ou menos a reclamar ao bispo.
Gente que entende do assunto explica que a Corte Internacional de Direitos
Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) - o foro escolhido para a
anunciada reação - pode condenar os países associados quando há violação dos
direitos humanos, entre os quais está o julgamento tido como injusto.
Nesse princípio se inclui o direito do réu a ser julgado por ao menos duas
instâncias. É nisso que os acusados agora se apoiam.
Ocorre, porém, que a jurisprudência da OEA considera como exceção os casos
em que o julgamento é feito em instância única pela mais alta corte do País.
Justamente o que acontece no caso em exame no Supremo.
Esse ponto foi abordado no primeiro dia de julgamento, em 2 de agosto,
quando Márcio Thomaz Bastos apresentou questão de ordem sobre o desdobramento
da ação para outras instâncias.
Na ocasião, o decano do STF, Celso de Mello, explicou a jurisprudência da
OEA. Esclareceu e deveria, com isso, ter encerrado o assunto no qual os
advogados insistem inutilmente.
Número ímpar. A resolução dos casos de empates divide tão profundamente os
ministros do Supremo, que há uma tendência a esperar pela posse de Teori
Zavascki.
Isso se houver outros e mais importantes impasses além do resultado de 5 a 5
no julgamento de José Borba (ex-líder do PMDB na Câmara) por lavagem de
dinheiro.
Esse caso, segundo avaliação corrente no STF, pode ser resolvido com a
mudança do voto de algum ministro.
Há a impressão de que Dias Toffoli talvez "caminhe" da condenação
para a absolvição.
A recomposição das 11 cadeiras e a participação de Zavascki seria a solução
menos traumática em nome da paz na Corte.
Saneamento. O
procurador-geral Roberto Gurgel certamente será criticado por ter considerado
"salutar" a perspectiva de que o julgamento do mensalão venha a
influir no resultado da eleição de domingo.
Será acusado de "parcialidade", por esperar apenas o óbvio: que o
eleitor junte A com B e tome suas decisões levando em conta as questões que
estão sendo debatidas no Supremo.
Não necessariamente para rejeitar candidatos apenas por serem ligados aos
personagens em julgamento. Mas para fazer a escolha com mais rigor em relação à
conduta daqueles que serão governantes no Executivo e seus representantes no
Legislativo.
Há candidatos dos partidos envolvidos no processo que nada têm a ver com os
crimes julgados no Supremo, assim como há outros ligados a legendas que não
estão no processo, cujos comportamentos e vidas pregressas não valem um
mandato.
Se escândalos anteriores tivessem influído em pleitos seguintes, haveria
menos candidatos fichas-sujas e talvez o ambiente já estivesse bem melhor.
A eleição é o momento ideal para se discutir essas coisas.
Vacina.
O ministro Ricardo Lewandowski não parou de repetir: "Vou julgar nos
autos". Indelicado com seus pares que por suposto votariam fora deles.
O revisor pareceu aplicar um antídoto à hipótese de terminar isolado,
marcando posição em prol da legalidade.
Ademais. O
PT não estaria há dez anos no poder se no partido mandasse o tesoureiro.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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