Com registro tardio da importação da Petrobras, país tem saldo comercial negativo de US$ 4 bi
Cristiane Bonfanti
BRASÍLIA - A balança comercial brasileira registrou em janeiro o pior resultado mensal em 20 anos. Afetada pelo registro tardio das importações de petróleo e derivados realizadas pela Petrobras e por uma explosão na compra de produtos do exterior, a balança comercial apresentou um déficit de US$ 4,03 bilhões no mês passado, o maior desde o início da série histórica, em 1993, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Além das operações da Petrobras e do aumento das importações de outros produtos, a queda nas exportações também influenciou o resultado da balança comercial. Na comparação com janeiro de 2012, as exportações caíram 1,07%, de US$ 16,141 bilhões para US$ 15,968 bilhões. A entrada de produtos, por sua vez, cresceu 14,64%, de US$ 17,448 bilhões para US$ 20,003 bilhões.
A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, informou que, em fevereiro e março, pode haver novos resultados negativos, ainda decorrentes dos registros tardios da estatal de petróleo. Ela explicou que ainda falta o registro de US$ 2,9 bilhões em importações da Petrobras. Em janeiro, foi contabilizado US$ 1,6 bilhão relativo a operações do último trimestre de 2012, que entraram nas contas com atraso.
- São US$ 4,5 bilhões de combustíveis e derivados que, em função do novo procedimento operacional da Receita Federal, refletiram-se na balança comercial deste ano - disse Tatiana.
As compras de combustíveis e lubrificantes ocorreram em outubro, novembro e dezembro, mas não entraram integralmente no Sistema Integrado de Comércio Exterior. O registro tardio foi possível graças a uma instrução normativa da Receita Federal que deu mais tempo para a estatal contabilizar as operações. Embora o governo negue uma manipulação dos números, na prática, a medida influenciou o resultado da balança de 2012. No ano passado, a balança registrou superávit de US$ 19,4 bilhões, o menor desempenho em dez anos. Se os US$ 4,5 bilhões em importações da estatal tivessem sido registrados até dezembro, o superávit cairia para US$ 14,9 bilhões.
- O motivo da instrução normativa foi uniformizar procedimentos de importação em diferentes portos do país. A obrigatoriedade é que os documentos sejam originais e, portanto, há um prazo maior para apresentação desses documentos. Antes, os fiscais aceitavam cópias - explicou Tatiana, que garantiu que a metodologia de geração de estatísticas não foi alterada.
No mês passado, houve queda nas exportações, principalmente de produtos básicos, como petróleo em bruto (-69,5%), café em grão (-16,2%), farelo de soja (-11,9%), fumo em folhas (7,1%), carne de frango (-4,5%) e minério de cobre (-8,9%). As maiores altas ocorreram nas vendas de milho em grão (289,6%), etanol (219,8%) e suco de laranja (126,2%). No caso das importações, destacaram-se combustíveis e lubrificantes (55,7%), bens de capital (14,6%) e matérias-primas e intermediários (7,9%). No que diz respeito aos bens de consumo, houve uma queda de 2,1% nas compras no exterior.
Nos 12 meses completados em janeiro, o superávit comercial é de US$ 16,701 bilhões, um recuo de 40,5% na comparação com o mesmo período anterior. Embora tenha considerado o déficit do mês passado "expressivo", a secretária observou que ele representa um quarto das exportações brasileiras. Em 1996, observou, a diferença representava quase metade de tudo o que o país enviou para fora.
- Em termos absolutos, sim, o número é expressivo. No entanto, é importante lembrar que o comércio exterior no Brasil cresceu muito e que as exportações cresceram muito nos últimos anos - afirmou.
Tatiana destacou que a expectativa é que haja saldo positivo em 2013. Mas os resultados só começarão a aparecer após a conclusão dos registros tardios da Petrobras.
- Nossa expectativa é manter o patamar elevado dos dois últimos anos, mas não atribuiremos número neste momento - disse.
Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, atribuiu o déficit da balança comercial em janeiro ao aquecimento do mercado doméstico, ao fraco crescimento do mercado internacional e à dificuldade das empresas nacionais em competir com os importados. A seu ver, mesmo sem considerar o registro atrasado das importações da Petrobras, o país mantém a trajetória de queda nos resultados do comércio exterior. A estimativa da consultoria é de que, no fechamento de 2013, o superávit fique entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões. Silveira previu que, a partir do segundo trimestre, deve haver uma melhora nos resultados, sobretudo pelo aumento nas vendas de itens como soja, açúcar e café:
- O que também vai impedir uma melhora no saldo é a queda no preço médio das commodities , que já está em 5%. Da pauta de exportação, 65% são commodities . Mas se tivesse uma queda no preço médio de 20% ou 25%, como ocorreu em 2008 e 2009, seria ainda mais preocupante.
Fonte: O Globo
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