O megaescândalo envolvendo a Petrobras – desencadeado pela delação do ex-diretor Paulo Roberto Costa sobre os desvios de vultosos recursos em negociatas e como comissão para políticos da base governista federal – começou a chegar à mídia no sábado e a ter peso nas manchetes (dos jornais, televisão e rádio) após a edição, histórica, da Veja do começo desta semana. Mas, para a campanha presidencial do tucano Aécio Neves, que poderá ser o grande beneficiário, o dividendo inicial foi apenas político, de reaglutinação de apoiadores para possível retomada de competitividade da candidatura. Com efeitos eleitorais, maiores ou menores, que só se manifestarão nas próximas pesquisas (não nas que estão sendo divulgadas). Efeitos cujas dimensões dependerão de uma verdadeira batalha que se trava entre dois interesses básicos e decisivos (além dos da oposição). De um lado, o do governo (da candidata à reeleição e do ex-presidente Lula) todo mobilizado para bloquear a divulgação de novos dados dos depoimentos do delator, para desqualificar os já re-velados com um “eu não sabia de nada”, e continuar entravando a atuação da CPI Mista do Congresso.
De outro lado, o empenho da imprensa para acesso a novos dados específicos da delação e sobre o conjunto da operação Lava-Jato. O resultado dessa batalha garantirá as informações ao conjunto do eleitorado sobre a amplitude do megaescândalo de corrupção desencadeado a partir de 2004. Cuja parcela destinada ao pagamento de propinas a políticos da base governista (inclusive dos ministros, um em exercício) foi estimada, pelo jornal Valor, em R$ 3,4 bilhões. Ou impedirá isso, caso a campanha reeleitoral consiga atropelar as investigações, retardando-as e esvaziando-as, por meio de tal bloqueio. Cabendo destacar o papel que tem sido desempenhado pela Polícia Federal – de um órgão do Estado, não do governo de plantão.
Na expectativa de vitória nessa batalha, o comitê reeleitoral de Dilma Rousseff e a direção do PT seguem, estes dias, centrados na polarização com a candidata do PSB, Marina Silva, e priorizando os ataques a ela. O que é feito por meio de um trabalho de cúpula junto a áreas empresariais, para vendê-la como radical antimercado, em combinação com o uso do horário “gratuito” e a mobilização das bases petistas e do sindicalismo da CUT, sobretudo das estatais, contra uma nova Marina ultraliberal, traidora do passado petista. Cujo governo se colocaria a ser-viço dos bancos privados, interromperia o pré-sal e sacrificaria ou esvaziaria os vários programas assistencialistas. Marina substituindo Aécio Neves na confrontação ideológica “nós (o povo) e eles” (a elite inimiga dos pobres).
A persistência – nas pesquisas anunciadas anteontem à noite – de pequena vantagem de Dilma (sobre Marina), no 1º turno, e de redução da desvantagem dela no turno final, estará sob ameaça não apenas de provável insucesso na batalha contra a imprensa pelo acobertamento do megaescândalo da Petrobras mas também pela piora, semana a semana, dos indicadores da economia. Dias atrás, a ultrapassagem pela inflação anualizada do limite máximo de tolerância, 6,5%, da meta oficial. Na segunda-feira, após afirmar-se o predomínio das projeções de analistas para um PIB abaixo de 0,5%, o ministério da Fazenda – com o titular já a praticamente demitido – teve de rebaixar a sua de 1,8%, feita um mês atrás, para 1%. Tão destituída de credibilidade quanto as anteriores. Por outro lado, acentua-se o desequilíbrio das contas públicas com a queda das receitas (da União, dos estados e dos municípios) decorrente da estagnação. O que vai tornando inviável a realização do superávit primário de 1,9%, mesmo com o uso “criativo” de recursos não fiscais. E ontem a agência de classificação de risco Moody’s revisou para “negativa” (depois de queda de “positiva” para “estável”) a perspectiva da nota da dívida pública do Brasil. O que passa a ameaçar uma perda do grau de investimento do país.
Jarbas de Holanda é jornalista
Um comentário:
Caro sr Jarbas, sua analise - de resto igual a tantas outras - merece reparos. A julgar por suas palavras o senhor considera verídicas e inquestionáveis as declarações do sr Paulo Roberto Costa e chama a edição da revista da marginal do Pinheiros de Edição histórica. Estranho habito esse de considerar que tudo que sai na imprensa é verdade. Não é. Se o senhor estudou jornalismo deve ter aprendido em suas aulas os milhares, talvez milhões, de noticias equivocadas, tendenciosas quando não mentirosas mesmo. A imprensa não é órgão oficial para julgar nada. Quando muito a imprensa investiga algo e coloca a disposição dos órgãos competentes e/ou da opinião publica. Fez bem a Dilma em solicitar a PF que encaminhe a ela os mesmíssimos documentos que deixou vazar para a revista. Então veja só. O senhor chama de tentativa de travar procedimentos investigativos a atitude - LEGITIMA - da presidência da republica e ao mesmo tempo chama de histórica a edição da revista que publica - ILEGALMENTE - informações parciais, incompletas e tendenciosas do caso. Abraços Jonas de Carvalh0 - jonasrita1973@gmail.com
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