• Pesquisas internas mostram que ataques à autonomia do BC e discurso do risco de regressão de programas sociais surtem efeito
Tânia Monteiro, Vera Rosa e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O comando da campanha da presidente Dilma Rousseff vai ampliar a tática de colar na adversária do PSB, Marina Silva, o rótulo de “candidata da elite” tutelada por “banqueiros”. A estratégia foi decidida após pesquisas analisadas pelo PT indicarem que os ataques têm surtido efeito e lançam dúvidas no eleitorado sobre a viabilidade da candidata de governar o País.
Encomendadas pelo marqueteiro João Santana, as pesquisas qualitativas - que avaliam impressões dos eleitores - indicaram que banqueiros são vistos como “vilões” não apenas pelos mais pobres, mas também pela nova classe média. É com base nesse diagnóstico que o PT quer desgastar Marina. A ordem no comitê da reeleição é associar a ex-ministra do governo Lula a uma mulher que fala uma coisa e faz outra.
“Eu não criei ‘bolsa banqueiro’ e também nunca recebi ‘bolsa banqueiro’. Não recebi e não paguei”, disse Dilma, nesta quarta-feira, 10, no Palácio da Alvorada, em resposta a Marina. No dia anterior, a candidata do PSB disse que o governo petista criou a “bolsa empresário”, a “bolsa banqueiro” e a “bolsa juros altos”.
Marina fez a declaração ao reagir a um comercial da campanha de Dilma, que atacou a proposta de autonomia do Banco Central. O vídeo sugere que a candidata do PSB é e será submissa aos banqueiros, se for eleita. A socióloga Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú, é coordenadora do programa de governo de Marina.
A campanha de Dilma bate na tecla de que, com a autonomia do BC e a redução do papel dos bancos públicos - sugeridas pela plataforma do PSB -, programas sociais como o Minha Casa Minha Vida serão atingidos. O argumento é o de que, com a fórmula sugerida por Marina, o governo não subsidiaria mais esses programas e a prestação da casa própria ficaria mais alta.
“Esse povo da autonomia do BC quer o modelo anterior: um baita superávit, aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e reduzir salário. Porque emprego e salário não garantem a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso”, disse Dilma.
Após dizer que quer ouvir todos os setores na campanha, “incluindo os bancos”, a presidente voltou ao ataque. “Agora, entre isso e eu achar que os bancos podem ser aqueles que garantem a política monetária, fiscal, cambial, vai uma diferença”, disse. “Quando a gente tem o mandato do povo, a gente tem de respeitar as relações de poder expressas na Constituição.”
Consequências. Em conversas reservadas, coordenadores da campanha de Dilma dizem que a estratégia de ataque a Marina também pode amenizar os efeitos do escândalo envolvendo as denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa.
Entretanto, a blitz contra a ex-ministra não é consenso no PT. “Não se pode tratar a Marina assim”, afirmou o ex-deputado petista Paulo Delgado. “A Dilma se esquece de que a Carta ao Povo Brasileiro foi escrita a pedido do (Olavo) Setubal, do Itaú”, emendou, em referência ao documento divulgado em 2002, na vitoriosa campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, para acalmar o mercado. “Devemos falar de nossas propostas, e não atacar Marina”, disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos “bons políticos” que a candidata do PSB quer ter como aliado em um eventual governo.
‘Quero crescer’. Na entrevista de ontem, Dilma admitiu que é “ruim” a indicação da agência de classificação de risco Moody’s de que pode rebaixar a nota de crédito do Brasil. “Eu queria estar crescendo a 10%, meu querido”, respondeu a presidente ao repórter do Estado. “Em matéria de crescimento, vocês podem ter certeza: serei eu a pessoa que mais vai querer crescer. Eu sei que há problemas porque nós tivemos uma transmissão da crise por inúmeros mecanismos. Inúmeros.”
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