• Contrariados com Dilma, Temer e ministro se aproximam, gerando apreensão no governo
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
A aproximação do vice-presidente Michel Temer (PMDB) com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, preocupa o núcleo duro do Palácio do Planalto. Em um ambiente marcado por idas e vindas da presidente Dilma Rousseff, Temer e Levy se uniram e terminaram a semana como protagonistas da cena política e econômica, abrindo novo capítulo na crise que abala o governo.
O temor é de que eles possam ser novos vetores de insatisfação com o governo.
Na quinta-feira à noite, pouco antes de Temer dizer, em palestra a empresários, que não sabia se Dilma resistiria até 2018 com popularidade tão baixa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a ela que fizesse um gesto mais forte para atrair o PMDB. “Tome cuidado!”, advertiu Lula. “Sem o PMDB, não se sabe o que pode acontecer.”
Ministros do PT avaliam que Temer – até o mês passado o articulador político do Planalto – faz claramente um movimento para se descolar da rejeição de Dilma e se credenciar como nome capaz de ocupar o governo, em caso de impeachment. Na outra ponta, acreditam que Levy, o fiador de Dilma na economia, também lança “vacinas” para se proteger.
A preocupação do núcleo de governo, agora, é com os sinais passados pelas insatisfações de Temer e Levy ao País. Em comum, os dois foram “bombardeados” pelo PT, tiveram atritos com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, protestaram contra a recriação da CPMF e pregaram mais cortes de gastos.
Contrariado com a exposição do rombo de R$ 30,5 bilhões no Orçamento de 2016, Levy conversou com Dilma e desabafou com Temer várias vezes. Disse ao vice, por exemplo, que havia muitas resistências na equipe à redução de subsídios e programas sociais e à fixação de idade mínima para pagamento de benefícios da Previdência.
‘Reengenharia’. “Nós precisamos fazer uma reengenharia no governo”, insistiu o ministro, mais tarde, em conversa com um grupo de empresários, na quarta-feira à noite, em São Paulo. “A gente precisa de uma ponte para alcançar o resultado primário que nos propusemos”, emendou ele, numa referência à meta de superávit de 0,7%, prevista para 2016. A “ponte”, no caso, seria um imposto temporário ou alguma mudança em gastos obrigatórios, autorizada pelo Congresso Nacional.
O PMDB comandado por Temer vai aproveitar o discurso da reforma administrativa e do enxugamento das despesas para pressionar Dilma a tirar Mercadante da Casa Civil, sob o argumento de que ele tem muitos desafetos na base aliada do governo e até no PT, a exemplo de Lula, o que acaba ampliando a crise.
Na terça-feira, Temer reunirá para um jantar, no Palácio do Jaburu, os sete governadores do partido, ministros e os presidentes da Câmara e do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
O cardápio oficial do encontro será a busca de soluções para cobrir o vermelho no Orçamento e debelar a crise política, agravada pela Operação Lava Jato. Nos bastidores, porém, o comentário é de que se trata de mais uma “conspiração” do PMDB para tratar do desembarque do governo.
O congresso do PMDB está marcado para novembro, mas Cunha quer antecipar o encontro e levar o partido para a oposição antes dessa data.
Irritação. Embora Lula tenha segurado o movimento no PT, reivindicando a saída de Cunha da presidência da Câmara, nem todos os deputados se submeteram à ordem, o que irritou o ex-presidente. A portas fechadas, Lula tem dito que o PT parece não perceber a “gravidade” da situação. Nem mesmo a recente conversa de Dilma com Renan e Cunha serviu para acalmar o ambiente. “Só isso não adianta”, observou Lula, que defende a “blindagem” de Levy e um freio de arrumação na equipe. “Não dá para uma hora um ministro dizer uma coisa e daqui a pouco vir outro e falar outra coisa.”
Apesar de fazer reparos a Levy, de pregar o afrouxamento do ajuste fiscal e de ser mais próximo do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, Lula também tem dito que os petistas não devem pedir a cabeça do ministro da Fazenda. O ex-presidente sugeriu a Dilma, porém, que tire pastas do PT na reforma administrativa anunciada, para dar um sinal de que corta na própria carne.
Quando o vice-presidente deixou a articulação política do Planalto, no mês passado, o ministro da Fazenda não escondeu o desânimo. “Ele era um apoio para mim. Como vai ficar agora?”, questionou Levy, que no dia da decisão de Temer participava de um congresso em Campos do Jordão (SP).
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