domingo, 6 de setembro de 2015

Empreiteiro acusa cúpula do PMDB de cobrar propina

• Ricardo Pessoa afirma que senadores Renan, Jucá e Lobão dividiram R$ 4 mi após retomada de Angra 3

• Depoimentos revelados por revista ampliam suspeitas sobre três senadores do partido; eles negam acusações

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e apontado como chefe do cartel de empreiteiras investigado na Operação Lava Jato, disse em depoimento que três senadores do PMDB receberam dinheiro desviado de contratos para a retomada da construção da usina nuclear de Angra 3.

De acordo com reportagem da revista "Época", o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Romero Jucá (RR) dividiram uma propina de R$ 4 milhões, de um total de R$ 30 milhões. Os valores teriam sido acertados em troca da confirmação das assinaturas dos contratos, que somavam R$ 3,1 bilhões.

Em julho, a Operação Lava Jato prendeu o presidente licenciado da Eletronuclear, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina. Para os investigadores, o esquema replicava o ocorrido na Petrobras, com o uso de licitações fraudadas, superfaturamento e pagamento de propinas a dirigentes da estatal e a políticos.

A revista reproduz trechos de depoimentos de Ricardo Pessoa, que se tornou um dos principais delatores da Lava Jato em troca de redução de pena. Os depoimentos ampliam as suspeitas sobre Renan, Lobão e Jucá, que já são investigados por suspeita de participação no esquema de corrupção na Petrobras.

Jantar
No caso de Renan, a "Época" reproduz trecho em que Pessoa afirma ter jantado com o presidente do Senado poucas semanas antes das eleições de 2014, no hotel Emiliano, em São Paulo. Segundo o empresário, Renan pediu contribuição de R$ 1,5 milhão para a campanha do filho ao governo de Alagoas.

"O declarante interpretou, da conversa com o senador Renan Calheiros, que havia um vínculo entre a assinatura do contrato de Angra 3 e as doações oficiais à campanha de Renan Filho", diz trecho do depoimento do empreiteiro.

Pessoa diz que procurou Lobão por sugestão do presidente da Eletronuclear. Segundo o relato reproduzido pela revista, Lobão cobrava pressa no fechamento do contrato de Angra 3 porque "tinha interesse em obter das empresas ganhadoras contribuições de campanha para o PMDB".

O ministro teria falado em um percentual de até 2% do valor do contrato, mas, segundo Pessoa, ficou acertado que o PMDB receberia R$ 30 milhões, com adiantamento a Lobão de R$ 1 milhão, pagos em espécie, antes da assinatura do contrato.

Em relação a Jucá, Pessoa diz ter havido três ou quatro jantares nos hotéis Emiliano e Fasano, e que num deles o senador pediu R$ 1,5 milhão para a campanha do filho a vice-governador de Roraima. O empresário igualmente interpretou o pedido como associado a Angra 3, mas diz que Jucá não mencionou a obra.

Renan e Lobão negam qualquer participação no esquema de corrupção na Petrobras. O presidente do Senado confirmou o encontro com Pessoa, mas disse que a doação eleitoral foi de acordo com a lei e que não pediu contribuição que pudesse pressupor desvio de recursos.

A Folha não conseguiu falar com Romero Jucá. À revista "Época" ele disse não ter participado "de nenhuma irregularidade em contratos com qualquer estatal".

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