Uma recessão profunda como a que se vê hoje no Brasil provoca retração da renda e do consumo e, por isso mesmo, deveria desestimular elevações de preços. No entanto, os índices da inflação continuam a desafiar prognósticos.
Depois de ter encerrado 2015 em 10,7%, o pior resultado em 13 anos, o IPCA teve forte alta em janeiro, de 1,27%, a maior desde 2003.
As explicações pontuais estão nos alimentos, cujos preços subiram devido a causas climáticas, nos aumentos em tarifas de transporte público e nas majorações de ICMS em vários Estados que, em situação de penúria financeira, buscam alternativas de arrecadação.
O ritmo no setor de serviços, que em tese deveria espelhar a falta de demanda na economia, também continua quase inalterado, com alta em torno de 8% ao ano.
Mesmo assim, parece provável que o IPCA venha a desacelerar. Não haverá, por exemplo, um novo choque nas tarifas de energia, um dos grandes vilões de 2015.
O impacto da desvalorização do real também deve ser menor, conforme os repasses de custos de itens importados percam força. Espera-se ainda que a recessão e o desemprego arrefeçam demandas salariais e custos de serviços.
Tudo somado, a projeção média de analistas aponta para inflação de 7% neste ano –isso, é claro, se não houver novos choques.
Trata-se de resultado pífio, porém, para um país que se encaminha para enfrentar queda no PIB superior a 7% no biênio 2015-2016.
Seja como for, é importante entender por que a inflação resiste no Brasil, enquanto a maior parte do mundo flerta com a deflação.
Uma resposta está na fragilidade institucional do país, sobretudo na crônica indisciplina orçamentária do Estado, incompatível com a preservação do valor da moeda. Se o crescimento da dívida não for estancado, os mecanismos de reprodução da inflação não serão dominados.
O principal deles é algo especificamente brasileiro –a indexação, ainda hoje a arma de defesa de parte da sociedade contra a perda do poder de compra, e que foi alimentada pela leniência do governo e do Banco Central diante da inflação nos últimos anos.
Desde 2009 que a meta de 4,5% não é cumprida, afinal. Quando isso ocorre, é muito mais difícil convencer trabalhadores a moderar demandas salariais e empresas a lutar por eficiência, e não por maiores repasses.
Duas décadas depois do real, a vitória no controle da inflação não foi plenamente alcançada. É preciso resgatar a disposição para enfrentar uma agenda de reformas que consiga consolidar um padrão responsável nas finanças públicas.
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