Por Raymundo Costa e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em meio a forte crise, o PSDB publicou neste fim de semana resolução convocando as convenções para a eleição de nova direção e a escolha dos candidatos do partido às eleições de 2018. A indicação do nome para a Presidência da República será em 9 de dezembro. Se houver mais de um candidato - o partido hoje está entre Geraldo Alckmin e João Doria, governador e prefeito de São Paulo, respectivamente - serão realizadas prévias em fevereiro de 2018.
Dificilmente o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente licenciado do partido, e Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino, devem continuar à frente do PSDB. Não há registro na história dos tucanos de presidentes "contestados" no cargo. O próprio Tasso pode não ficar até dezembro, pois uma ala influente do partido considera que ele está "provocando" as alas da legenda que não pensam como ele.
A convenção de dezembro é uma vitória de Alckmin, que espera eleger um presidente aliado na convenção. Os tucanos deram a largada à sucessão presidencial num momento crítico, quando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) articula a sua volta à presidência do partido, aproveitando-se de um momento de fragilidade de Tasso Jereissati (PSDB-CE). Tasso é o responsável pelo programa partidário, criticado pela maioria, no qual o PSDB reconhece ter cometido erros e condena o presidencialismo de "cooptação".
A reação foi imediata e em geral contrária a Tasso. A avaliação no PSDB é que o senador teria dado um tiro no próprio pé e auxiliado o PT - este sim responsável pela ruína econômica do país. Mas no fim de semana Tasso conseguiu mais apoios e pode não ser tão simples como parecia, na última semana, Aécio tirá-lo da presidência do PSDB.
Em 1992, o governador Mário Covas, morto em 2001, impediu que o PSDB ingressasse no governo do presidente Fernando Collor de Mello, em troca de participação no governo - FHC seria o chanceler. Collor, como se sabe, sofreu o impeachment soterrado sob denúncias de corrupção. Tasso Jereissati hoje cumpriria um papel parecido, segundo fontes tucanos ouvidas pelo Valor.
As primeiras reações ao programa partidário surgiram logo após sua exibição. "Alto lá", bradou o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. "Os governos tucanos que apoiei ou dos quais participei não se reconhecem nessa caricatura [troca de favores e a distribuição de vantagens espúrias]", escreveu Aloysio numa rede social. "E esse não é o PSDB. É o PT".
Os ministros do PSDB, também, todos reagiram desfavoravelmente ao programa partidário. Em São Paulo, um dos vice-presidentes, o ex-governador Alberto Goldman, foi duro nas palavras. "[Tasso] faz o papel de coronel, isso é inaceitável. Hoje não me sinto representado pelo Tasso, não fala em meu nome".
Na realidade, apesar das queixas mais ou menos generalizadas de que Tasso não ouviu nem mostrou a ninguém o programa, o Valor apurou que o governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tiveram acesso antes da edição final. FHC, a propósito, foi uma espécie de revisor da redação do programa. Ele trocou a expressão "presidencialismo de coalizão" por "presidencialismo de cooptação". Ou seja, FHC diz que no tempo dele, apesar das denúncias, se praticava o "presidencialismo de coalizão", diferente daquele que seria praticado hoje por Temer - uma versão que deixa bem seus dois mandatos e muito mal os ministros do PSDB no governo Temer. O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), aliado de Aécio, também assistiu antecipadamente o programa.
No Senado, Tasso contou com o apoio dos tucanos Cassio Cunha Lima e Ricardo Ferraço. José Serra preferiu não se manifestar publicamente. "Os cabeças pretas" da Câmara combatem na linha de frente para o PSDB deixar o governo. De olho na opinião pública (o governo Temer tem índice de reprovação recorde), Alckmin e Doria, dentre os quais sairá provavelmente o candidato do PSDB, também ficaram ao lado de Tasso.
O PSDB paulistano também reagiu duramente à noticia de que Aécio havia se encontrado secretamente com o presidente Michel Temer, no fim de semana. "A presença de Aécio Neves hoje, em reuniões internas ou públicas, só nos causa desconforto e embaraços", disse o vereador Mario Covas Neto, presidente do diretório. "Prove sua inocência, senador, e aí sim retorne ao partido", concluiu.
Em conversa com o Valor, na noite da última sexta-feira, Tasso disse que o programa concentrou suas críticas ao presidencialismo - que é um sistema "falido e que não resiste mais", em sua avaliação. "Algumas pessoas não entenderam [o programa] e tiveram uma reação muito exagerada e violenta. O programa defende um sistema [parlamentarismo] e ataca outro [presidencialismo], que está falido", disse Tasso.
"A cada dois anos, temos uma crise grave que paralisa o país. Algumas pessoas, principalmente no Congresso e no governo, se sentiram atingidas. Claramente se vê que a crítica não foi direcionada ao governo. Muito pelo contrário. Ameniza a culpa dele [Michel Temer] ao dizer que a culpa é do sistema e não de quem está no poder".
Ao ser questionado sobre o tom contrário ao "presidencialismo de cooptação", Tasso explicou que a crítica não teve alvo específico e que o sistema foi apontado como algo existente há muitos anos. "Quando falamos disso no programa, não há nenhuma alusão à denúncia. Quando se fala em presidencialismo de cooptação, é uma crítica a um sistema que vem há muitos anos. Isso é dito expressamente. Tem até um retrato do Fernando Henrique Cardoso. Só falta falarem que estou acusando o FHC também", afirmou. Para Tasso, o programa não divide o PSDB e deveria servir de inspiração para outros partidos promoverem uma autocrítica. "Mais do que nunca o PSDB precisa de uma discussão interna, acordar".
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