- O Estado de S.Paulo
Presidenciável preenche um vazio eleitoral para quem é a favor da redução da maioridade penal e da pena de morte, e é contra a legalização do aborto e do casamento de pessoas do mesmo sexo
A campanha presidencial de 2018 só não começou aos olhos da burocrática Justiça eleitoral brasileira. Os principais candidatos estão na estrada faz tempo, percorrendo o país em caravanas, usando verba de gabinete para cabalar voto, aproveitando horário de trabalho para receber homenagens nos Estados onde aparecem pior nas pesquisas. E publicando milhares de vídeos e mensagens em mídias sociais. Quem está ganhando?
Depende desde onde se observa a corrida. Na internet, Bolsonaro (PSC, por enquanto) está na frente por quase qualquer critério que se meça. É quem tem mais seguidores no Facebook (4,5 milhões, fora meio milhão no Twitter), mas não só isso. Provoca mais comentários, reações e compartilhamentos do que todos os rivais diretos: quase 100 milhões em três anos e meio. Como diria aquele político paulista, "falem mal mas falem de mim".
A objeção de que o digital não espelha a realidade porque muitos desses seguidores são robôs (ou a mesma pessoa com mais de um perfil) e que as interações são sempre com o mesmo grupo de pessoas é um argumento verdadeiro. Tão verdadeiro para Bolsonaro quanto é para Lula (PT) e para Doria (PSDB) ou qualquer outro.
Todos os presidenciáveis têm militância virtual - paga ou não - que infla sua pegada digital com mil e um artifícios. Se todos inflam, a comparação entre eles é válida. O impacto que isso terá no chamado mundo real é outro problema. Mas há correspondência entre a presença virtual e o desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas eleitorais.
No eleitorado, Bolsonaro só perde hoje para Lula. Na mais recente pesquisa divulgada, do DataPoder360, o militar aposentado aparece em segundo lugar em todas as simulações. Quando não fica atrás do petista, só perde para o branco e nulo. Ele vai melhor que qualquer outro nos 25% de eleitores que não votariam de jeito nenhum nem em um candidato do PT nem do PSDB.
A pesquisa DataPoder360 é telefônica e automatizada, o que exclui eleitores sem telefone ou que se recusam a conversar com gravações, mas a tendência que ela mostra está em linha com outros levantamentos, como a pesquisa Datafolha de junho. Bolsonaro pode ter um teto baixo, por inspirar rejeição em muita gente, mas ele é quem mais bem trafega hoje pela avenida do conservadorismo que caracteriza a maioria dos brasileiros.
Não é só do desgaste de tucanos e petistas que Bolsonaro se aproveita. O Índice de Conservadorismo lançado pelo Ibope em dezembro mostrou que os conservadores avançaram desde 2010. Bolsonaro preenche um vazio eleitoral para quem é a favor da redução da maioridade penal e da pena de morte, e é contra a legalização do aborto e do casamento de pessoas do mesmo sexo.
O que mais puxa o conservadorismo é o medo da violência. Foram as questões sobre segurança pública que alavancaram o índice do Ibope entre 2010 e 2016. Desde que a pesquisa foi feita, a insegurança só aumentou, especialmente na base eleitoral de Bolsonaro, o Rio de Janeiro. Se esse cenário se mantiver nos próximos 12 meses, Bolsonaro terá condições ideais para surfar.
Isso não significa que ele já esteja garantido em um eventual segundo turno, muito menos eleito. Outros tentam "rabear" a onda que está carregando o militar aposentado. Doria e Alckmin, por exemplo, estão na água. Ambos poderão convencer esse eleitorado conservador que têm a experiência administrativa que falta ao deputado. Mas até a disputa interna dos tucanos ajuda Bolsonaro.
A fratura exposta pelo PSDB em seu programa de TV pode acabar em defecção. Se tanto Alckmin quanto Doria forem candidatos a presidente, um pode afogar o outro. Aí Bolsonaro surfaria sozinho.
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