Grandes obras feitas para Copa e Olimpíada ficaram restritas à capital fluminense. Integração entre os transportes é precária, e a tarifária não existe
Apesar de investimentos de R$ 13,6 bilhões em transportes nos últimos anos, com foco na Copa e na Olimpíada, a mobilidade urbana teria se desenvolvido de forma desigual para o conjunto da população fluminense. É o que mostra reportagem do GLOBO publicada ontem, com base em estudo do economista Rafael Pereira, do Ipea. Segundo a pesquisa, as obras foram feitas em regiões de renda média e média alta da cidade, contribuindo para o isolamento da Região Metropolitana.
O estudo traduziu em números algumas desigualdades. Em 2014, os 10% mais pobres do Rio conseguiam chegar em até uma hora a 15% dos empregos. Agora chegam a 16%. Já os 10% mais ricos levavam até uma hora para alcançar 30% dos locais de trabalho. Hoje, esse percentual subiu para 36%.
Para o economista Claudio Frischatk, os investimentos em mobilidade tiveram um erro de origem, à medida que privilegiaram a cidade do Rio e ignoraram a Região Metropolitana. Grandes obras ficaram a reboque da agenda olímpica. A construção da Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra) custou R$ 10 bilhões — a mais cara de todas —, mas ainda é subutilizada. Reportagem do GLOBO mostrou que, em abril deste ano, oito meses após os Jogos, operava com 140 mil passageiros/dia — a previsão era de 300 mil. Estima-se que essa capacidade só será alcançada em três anos.
Outras obras, como os BRTs Transolímpico (Deodoro-Recreio-Barra) e Transcarioca (BarraIlha) e o Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT), embora importantes para a mobilidade do Rio, também ficam restritas à capital. Cidades como São Gonçalo, a segunda mais populosa do estado, e Niterói não receberam investimentos.
O IPCA, índice calculado pelo IBGE, mostra que o transporte público na Região Metropolitana do Rio ficou em média 30,8% mais caro de 2014 a setembro deste ano. As tarifas dos ônibus subiram 54,81%, e a dos trens, 33,82%. A inflação na cidade no período foi de 23,44%. Este é realmente um ponto nevrálgico da política de transportes. Moradores da Baixada, de São Gonçalo e Niterói que trabalham na capital costumam pagar tarifas mais altas do que cariocas que vivem nos bairros mais distantes do Centro.
A divulgação do estudo já provoca um debate. Um dos aspectos é o fato de não ter levado em conta o BRT Transoeste, que liga Santa Cruz, uma das regiões mais pobres do Rio, à Barra. A obra integrou o pacote para Copa e Olimpíada.
É certo, porém, que a crise de mobilidade que afeta o Grande Rio é um quadro que se repete em outras capitais, em cujas regiões metropolitanas se concentra mais da metade da população do país. Mas, ao menos no caso fluminense, falta um plano claro para enfrentar distorções. A integração entre os diversos meios de transportes é precária, e a tarifária simplesmente não existe. É preciso pensar a região como um todo. Ou a mobilidade entre cidades vizinhas permanecerá estacionada no tempo.
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