- O Globo
Os traumas da eleição de 2018 continuam a dividir a esquerda. Em atos contra o governo Bolsonaro, Ciro e Haddad ainda evitam dividir o mesmo palanque
Na semana passada, a oposição promoveu dois atos públicos contra o governo de Jair Bolsonaro. Os protestos mostraram como os traumas da derrota em 2018 ainda dividem a esquerda. A exemplo do que aconteceu na campanha, Ciro Gomes e Fernando Haddad evitaram dividir o mesmo palanque.
Na segunda-feira, Ciro participou do ato “Direitos Já”, em São Paulo. Haddad foi convidado, mas não apareceu. Dois dias depois, o petista desembarcou em Brasília para o lançamento de uma frente parlamentar nacionalista. Desta vez, Ciro não deu as caras.
O jogo de gato e rato tem sido comum desde aposse do capitão. Os veis chegaram ase cruzar no último dia 30, na abertura de um festival de cinema em Fortaleza. O clima foi de constrangimento. Para desgosto de Ciro, a plateia saudou a chegada de Haddad com gritos de “Lula livre”. Eles se cumprimentaram rapidamente e se afastaram.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, admite que a tensão só aumenta desde fevereiro, quando o ex-governador do Ceará bateu boca com estudantes por causa de Lula. “O Ciro e o PT ficaram quase inconversáveis. Estamos tentando evitar que isso vire uma guerra sem fim”, diz o pedetista. “O Brasil está vivendo um momento grave. É hora de ter um pouco de juízo, de pensar acima dos interesses individuais”, apela.
A disputa entre ciristas e lulistas não é o único problema a imobilizara esquerda em 2019. No lançamento da frente parlamentar, o ex-presidenciável Guilherme Boulos, do PSOL, reconheceu que a oposição tem penado para acompanhar a velocidade de Bolsonaro. “A cada dia, são dois ou três absurdos.
Você levanta de manhã, e ele demitiu o presidente do Inpe. Quando vai reagir, ele já indicou o filho para ser embaixador. Depois, ele pauta a venda de um banco público. Neste ritmo, eles tentam paralisara nossa reação ”, disse. Pelo visto, estão conseguindo.
Foi pura estratégia eleitoral a tentativa do prefeito Marcelo Crivella de ressuscitara censura na Bienal do Livro.
Na quinta-feira, o bispo usou as redes sociais para informar que mandou recolher uma obra de quadrinhos com “conteúdos impróprios para menores”. Em tom de escândalo, ele exibiu uma imagem em que dois personagens masculinos se beijam. No dia seguinte, reforçou o factoide ao enviar fiscais da Secretaria de Ordem Pública para uma “vistoria” no Riocentro.
A ameaça de apreender livros era claramente inconstitucional, mas atraiu as atenções para um político que não consegue se destacar pela boa administração. Crivella disputará outro mandato em 2020 e aposta na agenda de costumes para recuperar sua imagem com o eleitorado conservador.
O prefeito não é o único a seguira cartilha do obscurantismo. Na terça passada, o governador de São Paulo, João Doria, mandou recolher apostilas da rede pública. Alegou que os textos fariam “apologia à ideologia de gênero”. Com isso, deixou os alunos sem material didático de oito disciplinas.
O objetivo e Crivella e Doria é o mesmo: pegar carona no discurso moralista que ajudou a eleger Bolsonaro.
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