A firme perspectiva de redução das taxas de juros nos Estados Unidos, reforçada pela ata de junho da reunião do banco central americano (o Federal Reserve, conhecido internacionalmente como Fed), abre novas perspectivas para a política monetária no Brasil, para o cenário de investimentos financeiros e um incentivo para a retomada do crescimento econômico. É um fator de peso para determinar o panorama dos próximos meses, ainda mais combinado com os avanços da reforma da Previdência no Congresso.
No Brasil, é grande a expectativa entre especialistas e empresários de que o Banco Central decida reduzir a taxa básica, a Selic, neste ano. Na sua última reunião, no dia 19 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 6,5% ao ano pela décima reunião seguida. A decisão veio em linha com a expectativa dos economistas de mercado. Mas não se espera que esse 'congelamento' dos juros em 6,5% se mantenha até o fim do ano.
Pouco antes do encontro do Copom, levantamento feito pelo Valor indicou que uma rodada de redução da taxa Selic em 2019 entrou de vez no roteiro dos especialistas do mercado financeiro. A pesquisa com economistas mostrava que o percentual dos que esperavam corte da taxa básica de juros no segundo semestre praticamente dobrou em relação ao levantamento anterior.
De 63 economistas ouvidos pelo Valor, 38 esperavam corte de juros neste ano, o que representa 60% do total. O número evidencia uma grande mudança nas projeções do mercado, uma vez que no mesmo levantamento feito às vésperas da reunião anterior do Copom, em maio, apenas um terço da amostragem tinha a flexibilização monetária como cenário base.
Os que defendem o corte dos juros no país consideram que a medida ajudaria a estimular a economia, estagnada há meses. Os críticos da redução da Selic alegam que a medida teria pouco impacto porque não há demanda por empréstimos da parte das empresas. Seria preciso um conjunto de medidas para fazer o país voltar a crescer de forma consistente - e seria necessário a retomada da confiança de empresários e consumidores nos rumos da economia.
Nos Estados Unidos, na quarta-feira, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) divulgou a ata da reunião de junho. Os participantes do encontro votaram para manter de juros de curto prazo estável, mas as autoridades estavam prontas para reduzir as taxas se não houver uma melhora em alguns fatores econômicos importantes. A saber, pode haver corte dos juros se não houver uma mudança na perspectiva de crescimento global mais lento, na inflação mais fraca do que o esperado nos Estados Unidos e nas incertezas sobre as tensões comerciais globais. Neste último aspecto, a referência do banco central é, obviamente, às disputas sobre comércio exterior entre Washington e Pequim.
Pouco antes de tornar pública a ata da reunião mais recente do Fed, seu presidente, Jerome Powell, já tinha deixado claro que o banco poderá cortar as taxas de juros até o fim deste mês, destacando que as perspectivas da economia do seu país não apresentaram melhoras substanciais desde a reunião anterior. "O fator importante para mim são as incertezas em torno do crescimento global e o comércio internacional que continuam a pesar."
As declarações de Powell foram suficientes para que se voltasse a comentar, no mercado financeiro, a possibilidade de uma redução muito significativa dos juros, de 0,50 pontos, uma medida pouco usual no padrão de comportamento do banco central americano.
Não é apenas o banco central americano que considera possível corte nos juros neste ano. Ontem, foi a vez da divulgação da ata da reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), realizada em junho. A conclusão da direção do banco é semelhante às diretrizes do Fed - considera-se possível a adoção de novos estímulos à economia na zona do euro, no curto prazo, diante de um quadro de inflação muito baixa e de incertezas crescentes sobre a economia mundial.
O documento sugere que o Banco Central Europeu está preparado para ajudar a economia da região seja por meio de um corte de juros seja retomando o programa de compra de ativos. Os juros na Europa já são negativos. Estão em -0,4% atualmente, no caso dos depósitos.
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