Amanhã
vai ser outro dia, canta a maior parte dos relatórios econômicos, escritos pelos
departamentos de futurologia de bancos e da finança em geral. “Amanhã” quer
dizer junho. Depois de uma recaída no primeiro trimestre e uma convalescença no
segundo, a vida recomeçaria a voltar ao normal, como parecia
acontecer até novembro de 2020.
Mas
o que temos para hoje? Variantes avacalhadas de lockdowns. O medo renovado da
doença, que provoca enclausuramentos voluntários. Uma epidemia descontrolada,
não se sabe bem se por causa da selvageria do Carnaval ou também porque
há vírus mutantes. Há ainda chiliques no mercado financeiro
americano, que já tiveram efeito por aqui —podem ser mero paniquito, mas
sacudida semelhante ajudou a baquear a economia brasileira em 2013, o ano em
que tudo começou a acabar.
Nada disso ainda está considerado nas contas dos economistas animados. Na hipótese otimista, o país volta a andar em meados do ano desde que: 1) os grupos de risco estejam vacinados até maio ou junho, como previsto no cronograma oficial; 2) Jair Bolsonaro e o Congresso não estourem as contas do governo. Isto é, que limitem o auxílio a quatro meses e que aprovem medidas que pelo menos evitem o estouro do teto de gastos nos próximos três ou quatro anos.
“Otimismo” quer dizer crescimento de uns 3,5%
neste ano. Isto é, atividade
econômica parada no mesmo nível de novembro do ano passado, por
aí, mas na média superior a 2020. Sem mudança maior, para os próximos anos, não
há perspectiva de o Brasil andar em ritmo melhor do que 2018 ou 2019, um Temer
atolado em Bolsonaro.
Para
falar da vida miúda, quando o novo auxílio chegar, em março ou abril, valerá
bem menos do que em abril de 2020, em termos de comida, com perda de poder de
compra de uns 15%. O número de pessoas ocupadas no país é ora 8 milhões
menor que em fevereiro de 2020. Chutes informados otimistas dizem
que neste 2021 o número de empregados aumentaria em 3 milhões. O buraco ainda
seria enorme. Pode haver gritos de auxílio até o fim do ano, pois.
Em
quase todos os estados
há decretos de lockdowns. As restrições de movimento e comércio não
são rígidas o bastante para merecer tal nome. Além do mais, a maior parte das
atividades econômicas aprendeu a lidar com as restrições (que, no entanto,
afetam muito restaurantes, atendimentos pessoais e entretenimento). Mas haverá
estrago.
Na
conta do prejuízo é preciso incluir as bolsonarices. Ao “meter o dedo” na
Petrobras e no Banco do Brasil e causar alerta de outros danos, Bolsonaro
aumentou o descrédito de empresas e do governo.
Concretamente,
encareceu o custo de financiamento de dívidas e investimentos, que ficou maior
também por causa do sururu financeiro americano destes dias (alta de juros no
mercado, basicamente, o que afetou “emergentes” em geral, Brasil em
particular). O dólar tende a continuar caro até o fim do ano, ruim para
inflação e juros.
Fevereiro
foi um mês desperdiçado por causa do chilique
estatizante, dos decretos armamentistas e do vomitório golpista
do deputado “Daniel de Quê?”, um ferrabrás bolsonariano, que levou a Câmara a
se ocupar de fugir da polícia, com a PEC da Imunidade.
Bolsonaro volta a fazer propaganda maciça contra a prudência sanitária. Seu governo não consegue comprar vacinas além daquelas do Butantan e da Fiocruz. Algum financista engraçadinho precisa criar um “Mitômetro” a fim de medir quanto de PIB ou de emprego vai para o vinagre a cada vez que Bolsonaro joga sujeira no ventilador.
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