Em
2 de janeiro deste ano, os Estados Unidos bateram o recorde de casos de
Covid-19: 300.416 pessoas foram infectadas naquele dia. Em 12 de janeiro,
cumprindo o ciclo do vírus, foi registrado o recorde de mortes por dia: 4.470.
Joe
Biden tomou posse uma semana depois, em 20 de janeiro. Pois bem, no último dia
18, 59.822 residentes nos EUA foram infectados. E 1.611 morreram.
Os
dados são do mapa da Covid-19 da Universidade Johns Hopkins.
Pode-se
dizer que a vacinação já estava em curso, que o governo federal já estava
comprando vacinas nas últimas semanas de Trump.
Verdade.
Mas não percamos de vista a força de uma liderança nacional. Biden virou, sim,
o jogo. Ele e a vice, Kamala Harris.
Primeiro,
pela empatia com a população que sofria com a doença, sentimento demonstrado em
cerimônias fúnebres de pesar e respeito, uso da máscara e campanhas pela
vacinação. Isso muda o estado de ânimo de um país.
Segundo,
pela ação fulminante. Prometeu vacinar 100 milhões de cidadãos em 100 dias.
Passou dos 100 milhões no começo desta semana, sem distinguir entre americanos
e não americanos.
Mais: em menos de dois meses de governo, aprovou um pacote de ajuda de US$ 1,9 trilhão, dinheiro para apoiar empresas, empregos e pessoas. Na semana passada, famílias residentes começaram a receber os depósitos em conta, US$ 1.400 por pessoa — um pagamento só — e parcelas mensais para crianças.
Ok,
não precisam me dizer. Os EUA formam um país rico, com a maior parte da
população bancarizada e a economia formalizada.
Mas,
quando o governo Bolsonaro e o Congresso brasileiro levam mais de três meses
para aprovar o programa de auxílio emergencial, isso não revela apenas
incompetência. Indica falta de empatia e de preocupação com os doentes, seus
familiares e os mais pobres.
O
Congresso não ficou à toa nesse período. Negociou por semanas, nos bastidores,
a eleição de suas mesas diretoras. A Câmara ainda arranjou tempo para tentar
emplacar uma legislação pró-impunidade de seus membros.
O
presidente Bolsonaro seguiu na marcha da loucura. Mandou procurar vacinas “na
casa da mãe” e agora anda desconfiado de que todos os gestores de hospitais do
Brasil, inclusive do SUS, formam um bando de mentirosos. Estariam todos
passando números falsos de casos e mortes, tudo exagerado, para criar um clima
contra ele, presidente.
Trata-se
de um insulto grave ao pessoal da saúde, que está trabalhando além do limite
para conter os casos crescentes. E uma ofensa aos doentes, os mortos, os
familiares, os amigos.
Será
por isso que, até a tarde de ontem, não manifestara condolências pela morte do
senador Major Olímpio? Será que ele desconfia que o senador, seu desafeto, não
morreu de Covid-19?
Parece
absurdo, eu sei. Mas nosso colega Lauro Jardim relatou ontem que o futuro
ministro da Saúde, o dr. Marcelo Queiroga, pretende mesmo dar uma blitz nos
hospitais para checar se tem “tudo isso” de Covid-19.
E
Bolsonaro ameaça decretar estado de sítio para acabar com o toque de recolher
decretado por governadores e prefeitos.
O
que ainda pode ser mais absurdo?
O
pagamento de um auxílio de pequeno valor só a partir de abril. Diz o governo
que não tem mais recursos. Tem sim. Os deputados e senadores poderiam abrir mão
do dinheiro de suas emendas. O Congresso e o presidente poderiam ter usado sua
maioria para cortar gastos com o funcionalismo.
Atenção,
para evitar mal-entendidos. Dá para reduzir salários e benefícios da elite do
funcionalismo, o pessoal da média e alta burocracia, nos três níveis do
governo, Executivo, Legislativo e Judiciário.
E,
com isso, aumentar o auxílio e dar prêmios substanciais ao pessoal da linha de
frente do SUS e dos demais órgãos da saúde.
Eis o ponto: faltam uma liderança nacional e um Congresso não que representasse o povo — seria demais —, mas que ao menos o respeitasse e sentisse vergonha pelo que se passa.
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