O
Chile pode ser a inspiração para a reviravolta que o Brasil precisa dar
Em
março de 2018, Sebastián Piñera tomou posse como
presidente do Chile. Sete meses depois, do outro
lado da cordilheira, Jair Bolsonaro venceu o segundo
turno no Brasil. Ambos derrotaram as esquerdas em seus países. Piñera triunfou
num ambiente um pouco menos polarizado – como brinca o economista Samuel Pessoa, o debate
político chileno, na comparação com o brasileiro, lembra uma mesa acadêmica
opondo a Universidade de Chicago ao MIT.
No
meio do mandato, Piñera enfrentou insatisfação e protestos. Sua popularidade caiu a 6%
em janeiro de 2020. Veio a pandemia, e Piñera mostrou senso de urgência. Em
maio de 2020, determinou que seu subsecretário de Relações
Internacionais, Rodrigo
Yañez, se dedicasse exclusivamente à compra de vacinas. O Chile
usou a seu favor o fato de ser uma das economias mais abertas do mundo,
participante de mais de 30 tratados internacionais. Piñera supervisionou
pessoalmente as negociações.
Enquanto o Chile brigava por vacinas, o Brasil as esnobava. De acordo com o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, o governo federal recusou, ao longo de 2020, quatro ofertas de lotes da Coronavac. Em dezembro, Bolsonaro desdenhou do imunizante da Pfizer que, segundo ele, poderia transformar seres humanos em jacarés. No mesmo mês, o Chile recebeu o primeiro lote de vacinas, destinadas aos profissionais de saúde. Da Pfizer.
Hoje
o Chile é exemplo na América Latina. Na quarta-feira 17 de março, 36,7% da
população estava vacinada, ante 5,6% no Brasil. O Chile deve atingir um índice
confortável de imunização até o fim de junho. Ao longo desta semana, o Brasil
cruzou, na média móvel, o umbral das 2 mil mortes diárias – sem nesga
de luz ao fim do túnel.
Ao
negociar com vários laboratórios, o Chile driblou a escassez de imunizantes no
mercado – problema que assombra o Brasil. “Só em maio deveremos ter maior
disponibilidade de vacinas”, diz a epidemiologista Silvia Martins, da Universidade
Columbia, personagem do minipodcast da semana.
Com
a boa gestão da pandemia, Piñera recuperou parte da popularidade – está em 24%
e em ascensão. Nesta semana, a rejeição a Bolsonaro chegou a 54%, a
maior até agora. 43% dos brasileiros culpam o presidente pela proliferação da
covid-19. Como observou o Estadão em editorial, os
eleitores decidiram responsabilizar Bolsonaro, e não os governadores, pela
tragédia humanitária.
Os
impactos econômicos já se fazem sentir. A instabilidade do Brasil assusta os
investidores, e o Banco Central acaba de elevar os juros para evitar a
disparada da inflação. No Chile, houve o tombo regulamentar de 2020. O mercado,
no entanto, revisou para cima as projeções para 2021 diante do sucesso da
vacinação, como mostrou o colunista Fábio Alves no Estadão – mesmo com o
número ainda alto de casos no país, que estuda um novo lockdown.
Em
conversa com apoiadores na quinta-feira, 18, o presidente Bolsonaro
perguntou: “Qual país do mundo está tratando bem a questão da covid?
Aponte um”. Fica a dica. O Chile pode ser a inspiração para
a reviravolta que o Brasil precisa dar. Segundo o jornal El País, Peru, Colômbia, Uruguai,
Paraguai e México destacaram especialistas para estudar o caso chileno.
De acordo com o STF, todos os entes federativos têm responsabilidades no combate à pandemia. A comparação com o Chile mostra que o presidente tem um papel fundamental. Lá, atuação proativa e senso de urgência fizeram toda a diferença.
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