Se no auxílio pesava o lado dos pobres na balança, agora no Refis, é o peso empresarial que vai mostrar a sua força
A
negociação do novo parcelamento de débitos tributários é a mais nova batalha no
campo econômico em Brasília após
a votação da PEC do auxílio emergencial em
conjunto a um grupo de medidas fiscais.
A
aprovação de um projeto de parcelamento de dívidas tributárias já estava
devidamente contratada no Congresso desde 2020, mas o Ministério da
Economia vinha segurando o seu avanço para não perder
o controle e abrir uma brecha para uma renegociação ampla.
O problema para Guedes é que a pandemia piorou e a pressão ganhou um reforço de peso do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
A
hora chegou.
Logo
depois da sua eleição, no início de fevereiro, Pacheco já havia pedido o Refis ao ministro. Guedes
respondeu que seria melhor esperar a reforma tributária e
começou a discutir uma ampliação do programa aberto de transação tributária,
que prevê negociação direta com os contribuintes com base na capacidade de
pagamento.
Não
resolveu. Com a PEC aprovada, não está dando mais para segurar a pressão pelo
Refis que sempre aparece pelo menos a cada três anos nas últimas duas décadas.
A
reforma tributária não vai andar como se fala oficialmente (muitos
parlamentares nem acreditam nela até 2022) e o Refis é hoje considerado mais
importante para o cenário atual de pandemia e queda do PIB, como aconteceu com
o auxílio emergencial, que não pode esperar a ampliação prometida do
programa Bolsa Família.
Fernando Bezerra, líder do governo no
Senado, foi escalado por Pacheco para ser o relator e o diálogo foi aberto
nessa semana. De partida, Guedes quer limitar o Refis a débitos de 2020 e à
lista de setores mais afetados.
Botou
seus limites para iniciar as negociações. O posicionamento do ministro é uma
tentativa de freio de arrumação muito semelhante às contrapartidas fiscais
buscadas na PEC, mas, quando a discussão no Congresso esquentar, o negócio é
outro com o Centrão em
peso querendo o Refis. O Senado quer uma tramitação rápida para votação direta
no plenário.
A
questão é que tipo de Refis vai sair do Congresso? A dificuldade maior no Brasil é que foram tantos os
programas especiais de parcelamento de débito (levantamento da Receita Federal
aponta um total de 40 desde 2000) que se acabou criando por aqui o fenômeno do
contribuinte “devedor contumaz”, aquele que deixa de pagar os tributos sempre à
espreita do próximo.
Para
a Receita,
que tem que arrecadar e financiar as despesas, esse é o pior dos mundos. Os
Refis constantes também desestimulam o contribuinte que paga em dia. A
publicação pelo Estadão nesta
sexta-feira de reportagem sobre as negociações em curso para o Refis gerou
esperança para muitos empresários, que estão esperando o programa, mas também
críticas de que o Congresso está penalizado os que pagaram os tributos em dia,
em prol de “caloteiros”, reforçando uma concorrência desleal.
Esse
tipo de posicionamento mostra o tanto que os sucessivos Refis foram nocivos
para o País e quanto o assunto é sensível. Agora, que a crise maltrata o setor
produtivo e as pessoas físicas que perderam renda, argumentos desse tipo não
fazem muito sentido.
É
por essa razão que mais do nunca é importante impor limites que impeçam que o
novo programa abarque o parcelamento de dívidas passadas que nada tem a ver com
a pandemia permitindo mais “boiadas” na área tributária, como foi a confirmação
pelo Congresso esta semana do perdão da dívida das igrejas ao isentá-las do
pagamento da CSLL.
Uma renúncia de R$ 1,4 bilhão com aval do presidente Jair Bolsonaro.
O
dilema mais uma vez é a situação de fragilidade das contas públicas. Com a
movimentação, que antecipa mais uma queda de braço entre o mundo político e a
equipe econômica, o novo Refis já entrou ontem no radar do mercado financeiro
como mais um risco fiscal a ser monitorado. Se no auxílio, o outro lado da
balança era o mais fraco, os pobres, agora no Refis, é o peso empresarial que
vai mostrar a sua força.
Não por acaso o assunto de ponta entre os especialistas em contas públicas, que estão pensando na fase pós-covid-19, é justamente a necessidade de aumento dos impostos - tema hoje travado no debate nacional. Na Webinar do Estadão e do Ibre-FGV desta semana, a avaliação dos economistas é que ele vai voltar mais cedo ou mais tarde. Vale muito conferir o debate.
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