Do
Império à República: alguns capítulos da história sob a ótica do atual
presidente
Num
exercício livre
de reflexão, comecei a imaginar como seriam contados alguns capítulos da
História do Brasil se Jair Bolsonaro estivesse nos sapatos de outros líderes
brasileiros desde o fim do Império. Acho que seria mais ou menos assim:
Pedro II
- Se
fosse Bolsonaro e não Dom Pedro II o último imperador do Brasil, a República
poderia demorar um pouco mais a acontecer. Bozo I iria puxar tanto o saco dos
militares que talvez conseguisse demover o marechal Deodoro da Fonseca de fazer
a proclamação em 1889. Poderia, de outro lado, provocar uma guerra civil se
ouvisse a princesa Isabel e o conde D’Eu, que pediam uma reação armada. Antes
disso, vetaria a Lei Áurea.
Deodoro
da Fonseca - Daria
o golpe, claro. Derrubaria o Império e fundaria uma república militar, onde
civil ficasse sempre do lado de fora.
Delfim
Moreira - Ao
contrário do velho presidente, Bolsonaro não levaria a sério a gripe espanhola.
Demitiria Carlos Chagas do Serviço de Saúde Pública e nomearia um general para
o seu lugar. Os 35 mil mortos feitos pela epidemia em 1918, subiriam para mais
de 300 mil no ano seguinte.
Getulio
Vargas - Seria
um ditador muito mais violento que o velho caudilho. Da mesma forma que Getulio,
teria seus guarda-costas e deixaria seus filhos e parentes à vontade perto dos
cofres públicos. Na Segunda Guerra, apoiaria Hitler e acabaria sendo derrubado
pelas Forças Armadas aliadas. Morreria na prisão, não sendo portanto, eleito
anos depois para um mandato democraticamente adquirido, o que não era mesmo o
seu forte.
Jânio Quadros - Seria igual ao maluco da vassoura. Mas não renunciaria, nem de mentirinha, em razão do perigo de seu blefe ser aceito e ele vir a ser substituído por um vice “comunista”. Como Jânio, nenhuma dúvida que o nosso parvo trocaria os pés pelas mãos.
Castelo
Branco - Golpe
é com ele mesmo. Diferentemente de Castelo, seria difícil retirar o capitão do
cargo para iniciar o rodízio de generais.
Costa e
Silva - Baixaria
o AI-5 sem qualquer dúvida. Rindo. E nem se incomodaria em ter o aval do
Ministério. Seria uma decisão que tomaria apenas com seus generais. Imaginem a
farra que faria se tivesse tanto poder. Cassaria, prenderia e mandaria matar
uns 30 mil. Despacharia de farda.
Emílio
Médici - Se
fosse Médici, Bolsonaro não apenas apoiaria a linha dura, seria membro efetivo
do porão. Se pudesse, subiria até a “Casa da Morte”, em Petrópolis, para dar
umas porradas naqueles comunistas safados, arrancar um par de unhas. Iria em
carro aberto na companhia do coronel Brilhante Ustra, que seria o chefe da
“sua” Polícia Federal.
Ernesto
Geisel - No
lugar de Geisel, jamais iniciaria a abertura, nem lenta, nem gradual, nem coisa
nenhuma. Faria do general Sílvio Frota o seu sucessor para endurecer ainda mais
o regime.
Tancredo
Neves - Impossível
fotografá-lo nos sapatos de Tancredo. Bolsonaro jamais conseguiria se adaptar
ao papel democrático e tolerante do presidente que nunca assumiu o mandato.
Mas, se estivesse no lugar do mineiro, manteria o colégio eleitoral para
sempre.
Fernando
Collor - Se
tivesse um Paulo César Farias ao lado, cumpriria o mesmo roteiro de Collor. De
caráter frágil e sem a transparência dos dias de hoje, Bolsonaro deixaria o PC
roubar.
Fernando
Henrique - Como
o tucano, trabalharia por um segundo turno. E depois por um terceiro e quarto.
Mas não seria no Congresso. Ao contrário do verdadeiro FH, jamais escreveria ou
leria um livro.
Lula - Como
Tancredo, é quase impossível pintar Bolsonaro nas cores do Lula. Talvez ele
seguisse a política de cotas do PT, mas apenas pelo aspecto político-eleitoral.
Ao contrário de Lula, sua preocupação com pobre e com quem tem fome é só da
boca para fora.
A
conclusão eu
deixo para vocês. A mim coube apenas desenhar as hipotéticas situações acima
elencadas. Se não foi útil, espero que pelo menos tenha sido curioso.
Como
é?
Na
sua primeira fala depois de indicado para o Ministério da Saúde, Marcelo
Queiroga disse que a política da Saúde quem faz é o presidente, não o
ministro. Que
política, Queiroga? Falta quase tudo no governo de
Bolsonaro, inclusive inteligência, discernimento, tolerância e capacidade de
negociação. Mas, antes de qualquer coisa, falta-lhe política para a saúde
pública em meio a uma epidemia que já fez 290 mil mortes. Por isso, aliás, o
presidente negacionista agora é também chamado de genocida, e não só por Felipe
Neto. Virou uma febre nas redes sociais. Ao assumir o ministério e entregar
suas diretrizes ao chefe, Queiroga associa-se ao genocídio brasileiro.
De
boas
A
nomeação de Queiroga desagradou a quase todo mundo. Parlamentares,
governadores, prefeitos e profissionais de Saúde reclamaram da indicação.
Principalmente depois de ouvirem do próprio indicado que iria “dar
continuidade” ao trabalho do incompetente
general que deixou o cargo e que seguiria a política (?)
de Bolsonaro. Até o Centrão fez cara feia. Somente o sogro do senador das
rachadinhas, amigão do novo ministro, ficou feliz. Ponto para o zerinho, porque
nunca é demais ficar de boas com o sogrão. E o Brasil? Bom, o Brasil a gente vê
depois.
Reserva
Os
generais do Alto Comando do Exército querem que Pazuello vá para a reserva,
mesmo que não assuma nenhum cargo no governo. Não são bobos, esses
generais.
Terra
plana
Bem
lembrado por Ancelmo Gois. Quinta-feira fez um ano que o deputado Osmar Terra
disse que a Covid-19 mataria menos do que o H1N1. Um homem que abandonou a
medicina nos anos 1980 para fazer política sindical e depois partidária, posou
de entendido no início da pandemia. Queria
ser ministro. Se deu mal o ex-médico. Bolsonaro encontrou
outro mais “terraplanista” do que ele.
Morrem
mais
Negacionistas
morrem mais porque se expõem mais. Nenhuma novidade. Por que, então, o espanto
com a morte por Covid-19 de John Magufuli, presidente da Tanzânia? O Bolsonaro tanzaniano cumpriu
a jornada que lhe cabia.
Clube
dos zerinhos
Por
ora, apenas onde o capitão fraquejou não apareceram malfeitos, inquéritos,
investigações policiais e indiciamentos. A turminha boa aprecia uma farra com dinheiro público ou
desviado de terceiros, além, é claro, de adorar um traficozinho de influência.
Os zeros bravateiros também gostam muito de agredir instituições, sobretudo as
democráticas. Bem-vindo ao clube, Jairzinho.
Fome
As
reportagens sobre a fome no Brasil publicadas nos diversos jornais da TV Globo
e da GloboNews mostraram que são inúmeros os brasileiros solidários, que se
esforçam além do limite para reduzir a dor alheia. Enquanto isso, governo e
Congresso levaram três meses para retomar o auxílio emergencial para quem
precisava dele com urgência. Em abril, aqueles que pararam de comer em janeiro, poderão
voltar à mesa.
Pergunte
a Jesus
Os
cristãos de bom coração deveriam se perguntar como Jesus reagiria se soubesse
que os senhores do templo podem embolsar integralmente o dinheiro dos fiéis,
sem precisar devolver sequer parte dos valores arrecadados na forma de imposto.
E o que ele diria se todas as multas por falcatruas aplicadas contra igrejas
fossem extintas. Deveriam também se lembrar das imagens de Edir Macedo ensinando “bispos” novatos a extorquir os
seus crentes e depois contando dinheiro de doações esparramado pelo chão. Ou
daqueles sacos de dinheiro sendo embarcados num helicóptero para fora do
templo.
Gravíssima
As tentativas de intimidação a Felipe Neto e aos manifestantes de Brasília que chamaram Bolsonaro de genocida valem tanto quanto um caroço de pequi roído. Nunca prosperarão. Grave, gravíssima, é a instrumentalização da Polícia Civil, que correu para atender o zerinho municipal contra o youtuber, em flagrante ilegalidade, e da PM, que despencou para obedecer comando do Planalto e enquadrar os que protestavam. Com a Polícia Federal já dominada, restam juízes, tribunais e a defensoria pública (obrigado) para conter autonomias indevidas e perigosas. Tirania nunca mais.
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