Ex-ministro e ex-aliado do presidente defendeu uma alternativa de terceira via para a Presidência em 2022
Por Carolina Freitas / Valor Econômico
São Paulo - Presidente nacional do PSD,
Gilberto Kassab discursou ontem de forma crítica ao governo Jair Bolsonaro, a
quem responsabilizou por erros no combate à pandemia e por causar instabilidade
no Brasil. Na opinião do ex-ministro, ex-prefeito e ex-aliado de Bolsonaro, o
presidente tem chances cada vez menores de chegar ao segundo turno nas eleições
de 2022.
Kassab falou em evento online promovido
pela Câmara de Comércio França-Brasil. O ex-ministro reconheceu que, se as
eleições fossem hoje, a disputa estaria entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). Mas, como falta um ano e meio para o pleito, Kassab
vê o presidente “perdendo musculatura” e enxerga espaço para uma terceira via.
“Eu tenho a plena convicção de que a chance
do presidente Bolsonaro estar no segundo turno diminui a cada dia, por conta
dos erros dele”, disse Kassab. “Vamos pegar apenas a questão da pandemia.
Poderíamos pegar inúmeras outras. A conduta pessoal dele gera um afastamento do
ser humano, passa a imagem de ser coração de pedra. Ele distribuiu recurso para
os Estados mas nunca deu calor humano.”
O presidente do PSD citou como exemplo o episódio da semana passada em que Bolsonaro, em viagem oficial, pediu que uma menina tirasse a máscara. “É muito ruim, agride as pessoas. Não há uma família que não fique indignada”, disse Kassab.
O ex-ministro queixou-se ainda da proposta
de reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso. “Não bastasse todos os
problemas que tem, o governo abriu uma nova frente de tensão com a sociedade.”
Na opinião de Kassab, o projeto foi formulado sem diálogo com os setores
produtivos e que traz “centenas” de itens que trarão transtorno a atividades
empresariais. “Tem tudo para gerar uma insegurança muito grande, para afastar
os investidores nacionais e os que vêm de fora”, disse.
Outro “perigo” à estabilidade e à
democracia instaurado no país pelo presidente da República, de acordo com
Kassab, é a insistência para mudar o sistema de votação eletrônico no Brasil.
Bolsonaro coloca em dúvida a segurança da urna eletrônica, ainda que não haja
indício de fraude em 25 anos de uso da tecnologia. Uma proposta de emenda à
Constituição (PEC) para instaurar o voto impresso tramita na Câmara pelo
esforço de deputados bolsonaristas.
“Preocupa-nos que importantes personalidade
da vida pública questionem o modelo de apuração, tentando passar a sensação de
que as eleições do ano que vem serão fraudadas”, disse Kassab.
O ex-ministro afirmou que o PSD tem
aspiração de lançar um candidato próprio. A preferência de Kassab é pelo nome
do senador Rodrigo Pacheco, que hoje é filiado ao DEM. Ainda assim, o
ex-ministro ponderou que é cedo para que a terceira via defina candidatos e que
não há pressa para tanto.
Ao citar os palanques regionais que o PSD
trabalha para erguer, Kassab mencionou o nome do ex-governador paulista Geraldo
Alckmin (PSDB). O tucano vive um momento de indefinição e recebeu um convite
para se filiar ao partido de Kassab e disputar o governo do Estado de São Paulo
em 2022.
“A tendência é muito grande de que Alckmin saia do PSDB. Se for candidato a governador, será um forte candidato. E, se sai do PSDB, deve ser dissidente do candidato a presidente do partido. Também não se alia a Bolsonaro nem Lula. Então, vejo Alckmin em um palanque do Rodrigo Pacheco ou de outro [da terceira via]. É minha intuição política", disse o ex-ministro.
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