Dois policiais morreram carbonizados dentro da aeronave. 120 PMs fazem operação no Morro dos Macacos e no Morro São João
Rio - A população do Rio de Janeiro amanheceu acuada e perplexa diante da violência do maior confronto dos últimos tempos. A disputa entre traficantes rivais produziu, nas primeiras horas de ontem, cenas de morte e destruição, comparáveis apenas a territórios em guerra. Depois de sete horas de intenso tiroteio entre quadrilhas no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, um helicóptero da Polícia Militar foi abatido enquanto sobrevoava os morros da Matriz e do Sampaio.
O piloto, capitão Marcelo Vaz, alertado sobre as chamas, conseguiu desviar das casas e tentou pousar num campo de futebol da Vila Olímpica do Sampaio. O oficial evitou uma catástrofe no morro, mas não a morte de dois soldados, carbonizados na explosão da aeronave. Vaz e outros três tripulantes ficaram feridos.
Os PMs mortos na queda são os soldados Marcos Stadler Macedo, 40, e Edney Canazaro de Oliveira, 30. Segundo o IML, os corpos serão liberados após comparação de arcada dentária e digital. Ainda estavam a bordo o capitão Marcelo de Carvalho Mendes, 29, copiloto, que levou tiro de fuzil no pé direito; o cabo Izo Gomes Patrício, 36, que teve 90% do corpo queimado; e o cabo Anderson Fernandes dos Santos, 34, que também sofreu queimaduras.
Até a noite de ontem, o saldo era de 15 mortos, incluindo os PMs. Segundo a polícia, 12 seriam traficantes, mas famílias de quatro jovens negam essa versão. Além dos quatro feridos na queda do Esquilo, foram baleados um cabo e o major João Jacques Busnello, que há um mês matou um ladrão que mantinha refém na Tijuca. A Secretaria de Segurança montou uma operação de emergência com 2 mil policiais, para evitar novos confrontos.
Ônibus são incendiados e também levam medo na Mangueira e no Jacarezinho
Pouco depois, uma onda de terror tomou conta da Zona Norte. Houve ataques a ônibus perto de favelas ligadas ao Comando Vermelho (CV), facção que invadiu o Morro dos Macacos, para desviar a atenção da polícia. A Secretaria de Segurança informou que oito coletivos foram queimados. Já o Corpo de Bombeiros foi mobilizado para combater cinco incêndios de coletivo, e a RioÔnibus afirmou que teve informações de dez veículos atacados. Próximo à Favela do Jacarezinho, um carro também foi destruído.
A empresa Braso Lisboa enviou ordem de recolher todos os coletivos que estavam circulando pelas ruas da cidade. A Rio Ônibus também orientou as demais empresas que têm linhas passando pelos bairros em confronto que recolhessem seus veículos.
Piloto de helicóptero é considerado herói
O capitão Marcelo Vaz, piloto do helicóptero que explodiu e caiu no campo de futebol, foi considerado um herói pelos moradores do morro. A moradora Daniele Santos, 20 anos, viu quando uma hélice do helicóptero despencou pegando fogo. Muitos moradores correram desesperados. "Se caísse dentro da comunidade seria um desastre. Esse piloto é um herói. Ele jogou para o lado, porque não teve como pousar", disse D.S, que estava em casa com as crianças.
Às lágrimas, o comandante da tripulação do Fênix 03, sargento Cordeiro, lembrou da hora em que avisou pelo rádio que o helicóptero estava em chamas. “A aeronave dele estava pegando fogo por todos os lados. Foi uma situação complicada. Disse ao Marcelo ‘desce, desce logo’. Marcelo soube manobrar o helicóptero em chamas e teve equilíbrio emocional para procurar o campo seguro”, desabafou o sargento.
Moradores abandonam residências
Dezenas de moradores do Morro dos Macacos abandoram suas casas com mochilas nas costas ou só com a roupa do corpo. A., de 24 anos, deixou a favela com a esposa e os filhos de 1 e 4 anos, para passar pelo menos o fim de semana na casa de familiares, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
"Não dá para viver assim, estamos saindo com a roupa do corpo". A doméstica M., 43 anos, que nasceu no morro, disse que foi a pior invasão que o morro sofreu. "Precisei tomar calmante, chorava e pedia misericórdia", disse, ao deixar a casa com mais 12 familiares em direção a Saracuruna.
A Polícia Militar montou um gabinete de gerenciamento de crise no 6º BPM (Tijuca) para monitorar e evitar novos conflitos na cidade. O comitê é composto pelo comandante-geral , coronel Márcio Sérgio de Brito Duarte; os chefes do Estado Maior, Coronéis Álvaro Garcia e Carlos Eduardo Milagres; o comandante do 1º Comando de Policiamento de Área (Capital) , Coronel Marcus Jardim; e os comandantes dos Batalhões de Choque, coronel Robson Rodrigues e do Bope, coronel Luiz Henrique.
A PM informou também que todos os batalhões do 1º , 2º, 3º e 4º CPAs (Capital, Grande Niterói, Zona Oeste e Baixada) estão de prontidão. No total, dois PMs foram mortos e dois ficaram feridos. Três pessoas foram presas
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