DEU NO JORNAL DO BRASIL
O Brasil está hoje – e não se sabe até quando – à disposição das consequências cujas causas históricas já perdeu de vista ou preferiu esquecer.
Falta ajustar a nova visão do nacionalismo e reservar ao Estado atribuições econômicas intransferíveis, cuja oportunidade historicamente correta se deu sob os dois mandatos social-democratas. O presidente Lula, com o PT para servi-lo em alguns serviços especializados, não deu continuidade ao tipo de reformas que não passam de jogo de aparência, mas não se lembrou das outras que são passadas adiante pela metade. Lula cortou a conversa, fez o que quis e o que não quis, ao optar pela via constitucional e fechar a via socialista por mau estado de conservação. O presidente vai dar uma volta completa em torno do mandato emprestado e, enquanto isso, cantará de galo republicano. Seu antecessor deixou aberto o precedente de utilizar as grandes reformas na função de bode do mujique para exasperar as reclamações da família e aceitar o desconforto normal com a alternativa.
Lula nem precisou de tanto: aprendeu que reformas valem mais como ameaça do que pelo resultado.A palavra que saiu de moda, por tempo imprevisível, foi revolução. Mas se dispõe ao recall.
Candidato a lugar de destaque, Lula sempre será daqui para a frente.
Nem na tentativa de continuar por outros meios (consulta plebiscitária para o eleitor dar a última palavra), o presidente se valeu do cacoete revolucionário em torno da qual se organizou o PT e em cujo centro Lula pontificou, mas nem mais se lembrava quando chegou ao poder. Trocou três insucessos eleitorais e um programa radical intacto por uma carta ao povo brasileiro, que poucos leram e da qual nem se lembra. Era uma renúncia de ordem prática, e não tática.
A sequência histórica da qual ele e o PT são a última consequência – a desmontagem da oligarquia republicana, passando pelos quatro anos de governo provisório, o protesto armado por São Paulo em 1932, a eleição da Constituinte em 1933 e a promulgação de Constituição de 1934, a campanha presidencial e o golpe de 10 de novembro de 1937, o Estado Novo e a retomada da via constitucional em 1945, as tensões políticas das sucessões presidenciais, a asfixia golpista de Getulio Vargas, a renúncia de Jânio, o parlamentarismo, a bipolarização sob João Goulart, o golpe militar de 64, a falta de autenticidade da eleições indiretas, o esgotamento dos governos militares, a saída eminentemente política da ditadura – pode ser considerada o delta de um sinuoso processo. Teve mais de último ato do longo processo histórico do que o início de algo realmente novo. A ver.
Lula fez o que quis e o que não quis, ao optar pela via constitucional e fechar a socialista
Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.
O Brasil está hoje – e não se sabe até quando – à disposição das consequências cujas causas históricas já perdeu de vista ou preferiu esquecer.
Falta ajustar a nova visão do nacionalismo e reservar ao Estado atribuições econômicas intransferíveis, cuja oportunidade historicamente correta se deu sob os dois mandatos social-democratas. O presidente Lula, com o PT para servi-lo em alguns serviços especializados, não deu continuidade ao tipo de reformas que não passam de jogo de aparência, mas não se lembrou das outras que são passadas adiante pela metade. Lula cortou a conversa, fez o que quis e o que não quis, ao optar pela via constitucional e fechar a via socialista por mau estado de conservação. O presidente vai dar uma volta completa em torno do mandato emprestado e, enquanto isso, cantará de galo republicano. Seu antecessor deixou aberto o precedente de utilizar as grandes reformas na função de bode do mujique para exasperar as reclamações da família e aceitar o desconforto normal com a alternativa.
Lula nem precisou de tanto: aprendeu que reformas valem mais como ameaça do que pelo resultado.A palavra que saiu de moda, por tempo imprevisível, foi revolução. Mas se dispõe ao recall.
Candidato a lugar de destaque, Lula sempre será daqui para a frente.
Nem na tentativa de continuar por outros meios (consulta plebiscitária para o eleitor dar a última palavra), o presidente se valeu do cacoete revolucionário em torno da qual se organizou o PT e em cujo centro Lula pontificou, mas nem mais se lembrava quando chegou ao poder. Trocou três insucessos eleitorais e um programa radical intacto por uma carta ao povo brasileiro, que poucos leram e da qual nem se lembra. Era uma renúncia de ordem prática, e não tática.
A sequência histórica da qual ele e o PT são a última consequência – a desmontagem da oligarquia republicana, passando pelos quatro anos de governo provisório, o protesto armado por São Paulo em 1932, a eleição da Constituinte em 1933 e a promulgação de Constituição de 1934, a campanha presidencial e o golpe de 10 de novembro de 1937, o Estado Novo e a retomada da via constitucional em 1945, as tensões políticas das sucessões presidenciais, a asfixia golpista de Getulio Vargas, a renúncia de Jânio, o parlamentarismo, a bipolarização sob João Goulart, o golpe militar de 64, a falta de autenticidade da eleições indiretas, o esgotamento dos governos militares, a saída eminentemente política da ditadura – pode ser considerada o delta de um sinuoso processo. Teve mais de último ato do longo processo histórico do que o início de algo realmente novo. A ver.
Lula fez o que quis e o que não quis, ao optar pela via constitucional e fechar a socialista
Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.
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