DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa
Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa
É muito difícil encontrar algum sinal de entusiasmo popular pela realização das eleições. O desinteresse é evidente. Como de costume, caiu a audiência da televisão após o início do horário pago -não é possível chamar de gratuito, quando as empresas deixarão de pagar R$ 850 milhões de imposto de renda. O clima lembra 1970. Crescimento econômico, expansão do consumo e do crédito e muitas pitadas de ufanismo. Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa. Asfixiou a oposição. Diluiu as diferenças ideológicas e morais. Tanto que pode apoiar uma candidata identificada historicamente com o feminismo, assim como outro, que é conhecido como um covarde agressor de mulheres.
Aos críticos do "milagre econômico lulista" foi reservado o pior dos mundos. Criou o seu próprio "ame-o ou deixe-o".
Quem está com ele -e nessa categoria o arco é amplo, vai do MST ao grande empresariado- "ama" o Brasil; quem está contra é inimigo e tem de ser destruído.
Não causará estranheza, se disser que o "amor à pátria que entendemos é o que almeja desenvolvê-la e enriquecê-la para que alcance o bem-estar de toda a nossa gente". E que não consegue "ver esse amor em quem se volta contra a sua pátria, quem a quer em tudo derrotada, na estratégia do quanto pior melhor", como discursou Médici em 1970.
A sociedade civil silencia. Mais do que medo, está desinteressada da política. Já o governo avança. Não há mais distinção entre o lulismo e o Estado. É tudo uma coisa só, um só corpo.
O Estado Novo e o regime militar foram dois momentos de supressão das liberdades e de expansão econômica. Tudo à sombra da repressão policial-militar.
O domínio lulista é mais eficaz e sedutor. Até o momento, o pau de arara foi substituído pelos empréstimos bancários, pelo cartão de crédito. Isso só foi possível graças às reformas adotadas na década de 90, que acabaram abrindo o caminho para o crescimento da economia. Mas isso pode estar no limite do esgotamento.
Sem as benesses financeiras, o lulismo não sobrevive. Ao mantê-las, sem realizar as reformas necessárias, o país caminha para o estrangulamento econômico. Mas o que está ruim pode piorar. Deveremos ter o pior Legislativo federal desde 1930.
Produto do verde-amarelismo lulista, do conservadorismo, da despolitização.
Estaremos cercados de Tiriricas por todos os lados. E, por incrível que pareça, sentiremos, em 2011, saudades do Congresso de 2010.
Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar
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