Apesar do governo tentar controlar a inflação, reajustes no setor público colaboram para escalada do custo de vida
Alexandre Rodrigues
Enquanto o governo tenta mostrar empenho para controlar a inflação, os reajustes de preços administrados pelo setor público têm exercido influência significativa no aumento do custo de vida. Os aumentos do transporte urbano nas principais regiões metropolitanas ajudaram o grupo transporte a responder por mais de um quarto da inflação de 2,44% medida no primeiro trimestre do ano pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve continuar a registrar a pressão do segmento na inflação de abril, já que os reajustes de ônibus urbanos em cidades como Curitiba (13,5%) e Fortaleza (11,11%) entraram em vigor depois do início de março, deixando resíduos para abril.
Na capital fluminense, no início de abril, o metrô subiu 10,7% e os táxis tiveram reajuste de 14% no quilômetro rodado e de 2,3% na bandeirada.
Além disso, outros aumentos autorizados pelo setor público estão previstos para este mês. As taxas de água e esgoto subiram 16% em Curitiba na segunda quinzena de março. Em Goiânia e Belo Horizonte, o serviço deverá ter reajuste de 6% e 7%, respectivamente, nos próximos dias.
A inflação de abril também deve absorver o reajuste de 3,54% a 6,01% autorizado pelo governo para os medicamentos com preços controlados.
Depois dos alimentos, os transportes têm o maior importância no cálculo do IPCA, o índice oficial de inflação do País. Atualmente, eles têm um peso de cerca de 19%, enquanto o dos alimentos é de 23%.
Nos três primeiros meses do ano, o custo do transporte, incluindo os preços dos combustíveis na bomba, subiu 3,61%, contribuindo com 0,67 ponto porcentual do IPCA no período.
Embora as passagens aéreas e os combustíveis tenham influenciado mais a alta dos preços no setor, os reajustes autorizados para os ônibus urbanos (0,95%) e intermunicipais (1,47%) pressionaram o IPCA em março. No acumulado do ano, somam alta de 4,92% e 6,49%, respectivamente. Trens (8,62%) e metrô (6,98%), outros reajustes que dependem do governo, também se destacaram este ano.
Em boa medida, a alta mais expressiva das tarifas este ano está ligada à inflação de 2010 (5,91%), a maior desde 2004. Como se tratam de concessões públicas, os reajustes autorizados pelos governos estaduais e municipais geralmente levam em consideração a inflação passada.
"Sabemos que a maior parte dessas concessões têm um cunho político. Dificilmente alguém que tem esse tipo de lobby vai arcar com algum imposto inflacionário. Eles querem repassar imediatamente a inflação para o preço e conseguem", diz Ruy Quintans, professor de economia do Ibmec-RJ.
O governo também pode estar incentivando a alta de preços ao aumentar a arrecadação. A elevação de 15% da incidência de impostos sobre bebidas deve ser repassada aos preços dos produtos, que fazem parte do grupo dos alimentos no IPCA.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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