Gravação de conversas do diretório tucano na campanha do Acre em 2010, revelada pelo "Estado", será avaliada pela cúpula do partido
Andrea Jubé Vianna
BRASÍLIA - A cúpula do PSDB e o ex-governador de São Paulo José Serra condenaram ontem a interceptação de linhas telefônicas do diretório do partido no Acre durante a campanha eleitoral de 2010, revelada ontem pelo Estado. Os líderes tucanos marcaram reunião na próxima semana, em Brasília, com o candidato derrotado ao governo daquele Estado, Tião Bocalon. Ele perdeu a eleição para o petista Tião Viana por uma margem apertada - cerca de 3 mil votos, ou 0,5% do total.
Em nota divulgada ontem, Serra considerou a denúncia "um fato gravíssimo, que precisa ser investigado a fundo". Foram interceptados diálogos entre integrantes da coordenação nacional da campanha presidencial de Serra e funcionários do diretório do PSDB no Acre sobre estratégias, material de propaganda e agendas.
Segundo Serra, esse episódio soma-se a outros da mesma natureza, "como a quebra de sigilo fiscal na tentativa de usá-los como armas eleitorais". Na campanha presidencial, o PSDB denunciou violações de sigilo fiscal de dirigentes do partido. Uma das vítimas da manobra foi Verônica Serra, filha do candidato tucano.
O Ministério da Justiça preferiu não se pronunciar sobre as denúncias, mas ressaltou que fornecerá as informações solicitadas pelo PSDB. O presidente do PSDB no Acre, deputado Márcio Bittar (RR), requereu ontem informações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre as denúncias de escutas telefônicas no diretório estadual.
No documento, Bittar diz que não pode contestar a "utilidade das escutas telefônicas como instrumento de investigação", mas condena sua utilização como "instrumento de intimidação e de espionagem política".
Bittar afirma que os grampos não foram uma surpresa para ele. "Isso prova para nós do Acre que a turma que nos governa são coronéis da política", observou. Com a vitória de Tião Viana na última eleição, o PT deu início ao quarto mandato consecutivo no comando do Estado.
"O fato é escandaloso se ficarem provadas essas questões, como de fato tudo leva a crer", afirmou Bittar. "A diferença (no resultado da eleição) foi na fotografia. O PSDB poderia ter vencido a eleição, com certeza. Qualquer informação privilegiada que pudesse prejudicar a estratégia do PSDB ou dar vantagem ao adversário nos tirou do jogo."
Grampo "legal". A Polícia Federal trata as interceptações como escutas legais, porque as interceptações teriam sido feitas nos telefones da deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), aliada do PSDB no Estado, e que estava sendo investigada por formação de caixa dois e compra de votos. Pela versão da PF, o grampo no PSDB, portanto, teria sido indireto, pois o telefone da deputada teria sido emprestado ao diretório. A deputada nega.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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