A vitória de Antonio Carlos Magalhães Neto, em Salvador, se não acaba de uma
vez por todas, seguramente arrefece as ideias de fusão ou dispersão do Democratas
por outros partidos. O DEM é a única sigla da oposição a governar, a partir do
próximo ano, um dos quatro maiores colégios eleitorais do país. Pela ordem, as
capitais de São Paulo (PT), Rio de Janeiro (PMDB), Salvador e de Minas Gerais
(PSB).
Considerando-se o mês de junho de 2011, depois do ataque especulativo que o
prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fez em suas fileiras, o DEM entrou nas
eleições municipais com 347 prefeituras e 4,8 milhões de votos. De quarta força
nas eleições de 2008, o DEM passou para a sétima. Agora é a nona em número de
prefeitos. Elegeu 278, mas cresceu 50% - sempre em relação a junho do ano
passado - em número de votos.
O balanço final do DEM é positivo. Graças sobretudo à eleição de Salvador, o
partido saiu com 6,87 milhões de votos da eleição municipal. Ou seja, mesmo com
menos prefeituras, o Democratas ganhou 2,1 milhões de eleitores. Não governava
nenhuma capital. Agora tem Aracaju, a capital de Sergipe, e assume o terceiro
maior colégio eleitoral do país. "O DEM cresceu qualitativamente",
diz seu presidente, o senador José Agripino Maia (RN).
Agripino diz que Salvador foi uma lição para o governo
A partir do próximo ano, o Democratas vai administrar um orçamento de R$
12,9 bilhões. Originalmente PFL, a dissidência da Arena que viabilizou a
eleição de Tancredo Neves, em 1985, e o fim do regime militar, o DEM era o
partido dos grotões. Em 2012, assumirá, além das duas capitais, cidades de
porte como Barueri (SP), São José dos Pinhais (PR), Feira de Santana (BA), Mossoró
(RN) e Vila Velha (ES), entre outros.
No ranking das capitais, o DEM ficou atrás, em prefeituras, somente do PSB
(5), PSDB (4), PT (4) e PDT (3), empatando com o PP (o sucedâneo da Arena, que
também elegeu dois prefeitos). Em Santa Catarina, onde o prefeito Gilberto
Kassab levou praticamente todos os integrantes do DEM para o PSD, comemorou com
especial prazer ser o vice da chapa que tirou da Prefeitura de Blumenau João
Paulo Kleinubing, seu antigo filiado hoje no PSD de Kassab.
"Eu nunca levei isso muito a sério", diz Agripino, sobre as
conversas de fusão do DEM ora com o PSDB ora com o PMDB. Aparentemente, o
partido com mais condições locais de acomodar a maioria do DEM é o PMDB. Mas o
PMDB é da base do governo e quem não se aliou aos "trânsfugas", como
o presidente do DEM faz questão de qualificar os que foram para o partido de
Kassab, é porque queria ficar na oposição. Deputados como Ronaldo Caiado, por
exemplo. Não faria sentido, portanto, se aliar a um partido da aliança
governista.
O curioso é que após a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, até o prefeito
eleito de Salvador tinha dúvidas sobre o futuro reservado ao DEM. Hoje, ACM
Neto diz que cumprirá o mandato até o final, sem aventurar-se por uma
candidatura a governador em 2014. Muito jovem - tem apenas 33 anos -, Neto é um
prefeito "com muitos anos de vida política útil pela frente", como
gosta de dizer Agripino.
Há uma espécie de "consenso" entre congressistas e analistas
políticos que o DEM é um partido que não consegue sobreviver sem estar à sombra
do governo federal. O presidente do Democratas descarta esse teoria. Agripino
Maia espera, a partir de agora, "um partido mais coeso" e seguramente
na oposição. "Os trânsfugas foram todos embora no ataque do Kassab.
Especialmente aqueles que queriam de todo modo aderir ao governo. "Ficou a
essência do partido", diz Agripino. "Nós lutamos para sobreviver na
oposição. Sobrevivemos e crescemos. Não há lógica, portanto, em se aliar a um
partido da base do governo".
Com relação ao PSDB, seu aliado em quatro das últimas cinco eleições
presidenciais, Agripino afirma que é cedo para especular sobre uma eventual
aliança em 2014. "Não há um alinhamento automático", diz. Por
enquanto, o partido pensa apenas em manter a parceria que tem com os tucanos,
no Congresso, na oposição aos governos do PT e à presidente Dilma Rousseff.
Agripino destaca como simbólica a eleição de ACM Neto para prefeito de
Salvador, área de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também
a presidente Dilma esteve em Salvador a fim de fazer campanha para o candidato
do PT, Nelson Pelegrino.
Segundo Agripino Maia, esse palanque e mais o governador Jaques Wagner (PT)
diziam aos soteropolitanos que eles tinham a "obrigação" de votar no
em Pellegrino em retribuição aos benefícios sociais concedidos pelos governos
petistas aos baianos. Só para Salvador, neste mês de outubro, o Ministério do
Desenvolvimento Social pagou o Bolsa Família para 172.066 famílias.
"O Fernando Haddad, no discurso da vitória em São Paulo, afirmou que
sua eleição iria derrubar o muro que separa os ricos dos pobres", diz
Agripino Maia. "Essa é a cantilena da companheirada, deve ter sido assim
em todo o Brasil", e a eleição na Bahia, no entendimento do presidente
nacional do DEM, "deve servir de lição ao governo: o pobre sabe
votar".
Eleições municipais são mais relevantes, do ponto de vista das eleições
nacionais e estaduais, quanto mais elas são formadoras da opinião pública.
Nesse sentido o DEM ganhou ao avançar para cidades de maior porte, deixando de
privilegiar os grotões que herdou da Arena e do PFL.
Um estudo dos tucanos revela que há uma interferência das eleições
municipais na formação das bancadas, dois anos depois, de maneira especial da
bancada de deputados federais. E o número de deputado na bancada da Câmara é
determinante para a fixação do tempo de televisão do partido no horário de
propaganda eleitoral e a cota que cada partido terá do fundo partidário.
Por esse aspecto, o Democratas deveria se preocupar por ter eleito apenas
278 prefeitos. Mas Agripino é um otimista: como cresceu o número de eleitores e
o partido avançou em direção de capitais e de cidades com mais de 200 mil
eleitores, dificilmente fará uma bancada na Câmara inferior à atual,
desidratada de 43 deputados eleitos para 28, depois da razia de Kassab. O DEM é
um sobrevivente.
Fonte: Valor Econômico
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