Presidente do STF diz que revisor tem votado com "transparência e sem
medo"
BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres
Britto, saiu em defesa do colega Ricardo Lewandowski, revisor do processo do
mensalão. No domingo, quando foi votar, em São Paulo, o revisor do processo do
mensalão foi ofendido por eleitores. O mesário da seção eleitoral fez o mesmo,
insinuando que o ministro é amigo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um
dos réus do processo.
Ayres Britto chamou o incidente de "fato isolado" e negou que
tenha ocorrido desacato à autoridade:
- Telefonei ontem à noite ao ministro Lewandowski para perguntar o que
houve, com o propósito de dar assistência. Ele disse que não foi uma
hostilidade coletiva, mas uma indelicadeza por parte de uma mulher. Disse
também que o mesário pediu para ele mandar um abraço ao Dirceu.
O presidente do STF defendeu o direito de cada ministro votar "como bem
entender", de acordo com suas convicções. Lewandowski absolveu a maioria
dos 37 réus do mensalão.
- O pluralismo, que é um dos fundamentos de nossa República, no âmbito da
vida do jornalista, se manifesta sob a forma da liberdade de expressão. No
âmbito dos colegiados do Judiciário, o pluralismo se manifesta na liberdade de
voto. Cada um vota como bem entender. Ninguém é obrigado a seguir ninguém. Cada
ministro vota de acordo com sua consciência e sua ciência do Direito. O
ministro Lewandowski tem votado com toda consistência técnica, isenção,
transparência e desassombro, sem medo, sem receio de desagradar a quem quer que
seja - afirmou.
Ayres Britto disse que as críticas ao trabalho da Corte são válidas, mas não
podem virar ofensa pessoal:
- Não estou dizendo que estamos imunes a críticas, mas que não se descambe
para o desacato, para a ofensa pessoal. Precisamos de condições psicológicas
para trabalhar - reclamou.
Ele defendeu a posição do colega de não responder às ofensas:
- Ele estava ali como eleitor, de espírito desarmado, sem espírito de
polêmica. Não houve hostilidade coletiva. Se fosse algo numericamente
expressivo, seria mais preocupante.
Sobre a dificuldade dos ministros em chegar a um acordo sobre as penas dos
réus condenados, Ayres Britto brincou:
- Dosimetria é dose! Vamos ver se a gente deslancha na próxima semana.
Fonte: O Globo
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