- O Globo
Os anos de 2014 e 2015 têm tudo para serem os melhores para o mundo desde 2011. Haverá mais comércio entre as nações e mais crescimento do que em 2012 e 2013. O Brasil está perdendo o bonde e indo na direção contrária. A maior parte dos países acelera, mas o Brasil cresce menos. Os países ricos terão a maior alta desde 2010. A Europa voltará ao azul, e a recuperação dos EUA será mais forte.
O FMI fez essas previsões, mas ele pode estar errado. O problema é que todos estão reajustando para baixo o crescimento do Brasil este ano: organismos internacionais, consultorias e institutos brasileiros e órgãos governamentais. As economias que passaram por crise grave estão saindo dela. Os Estados Unidos vão crescer um ponto percentual a mais do que o Brasil este ano.
O crescimento mais forte dos países de economia madura implica em aumento das taxas de juros e maior aversão ao risco no mundo. O dinheiro ficará mais caro e seletivo. Os defeitos das economias ficarão mais evidentes sob os olhos dos investidores. Depois de um longo período de inundação de dólares no combate à crise, o enxugamento de moeda pegará muitos países desprevenidos.
O Brasil já tem crescido menos que a média mundial desde 2011. Isso deve acontecer novamente este ano e no próximo. O país adiou reformas e empurrou para o ano que vem ajustes que precisam ser feitos agora, como a correção dos preços da energia elétrica e da gasolina. Há inflação reprimida e a sensação de que ela terá que ser corrigida em algum momento deteriora o ambiente de expectativas.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, da “Folha de S.Paulo”, admitiu a inflação represada e disse que o ideal é que esses aumentos sejam diluídos ao longo de dois ou três anos para não se concentrar em 2015. “É um processo que precisa ser feito com a devida organização”, disse ele, curiosamente indo com suas opiniões muito além do BNDES e entrando em área de ministro da Fazenda. “Temos desafios de curto prazo de inflação. Temos um desafio de reequilibrar nossas contas,” disse Coutinho.
Sua ideia protelatória no campo da inflação e das contas públicas não é a melhor estratégia. Politicamente, ela esconde do eleitor certas verdades; e na economia ela alimenta a expectativa de que o pior está por vir e isso enfraquece o investimento.
O próprio Banco Central alertou, no último Relatório de Inflação, sobre o efeito do represamento dos preços nas expectativas futuras de inflação. O nosso índice destoa. Inflação não é uma preocupação mundial. Pelo contrário. A zona do euro tem outro perigo, o de deflação. Nos EUA, o índice está abaixo da meta. Na maioria dos emergentes, a inflação não preocupa. No México, por exemplo, está em 3,8%.
A China continua liderando o crescimento, mas há um temor das próprias autoridades chinesas de que o país este ano não cumpra a meta de 7,5% de crescimento. Com a enorme dependência que o Brasil está da China, qualquer oscilação no ritmo aumenta o risco de piora da balança comercial brasileira.
O grande problema é que quando olhamos todo o panorama, nesses relatórios globais, por mais que haja atraso em algumas estatísticas ou análises, o fato é que a década avança e o Brasil vai ficando para trás. Cresce menos do que o mundo, menos do que os vizinhos, e só ganha de países cuja economia descarrilhou, como a Argentina e a Venezuela.
Na inflação, de novo as autoridades econômicas apostam no “vai passar”. Claro que alta de alimentos tem efeitos sazonais, mas eles ainda não deram demonstração de entender que a volatilidade dos preços de alimentos só assusta tanto porque o país tem aceitado inflação alta demais. Os choques elevam o índice acima do teto permitido.
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