• Categorias profissionais intensificam manifestações no Rio e em São Paulo, e atos vão ganhar mais corpo amanhã, com mobilizações no país. Capital fluminense vive dia caótico com a greve de rodoviários
Renata Mariz – Correio Braziliense
Cinco dias depois dos protestos que pararam o Rio de Janeiro, na última quinta-feira, novas manifestações invadiram a cidade. Desta vez, além dos rodoviários, vigilantes e engenheiros saíram às ruas para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Houve depredação e prisões. Em São Paulo, cerca de 5 mil profissionais de educação bloquearam a Avenida Paulista no fim da tarde, complicando o trânsito já caótico da região. Os atos públicos chegam ao Palácio do Planalto como um prenúncio das mobilizações marcadas para amanhã, batizadas, na internet, como o Dia Internacional de Lutas contra a Copa. Antes protagonizados por black blocs, os protestos agora reúnem categorias profissionais que se aproveitam da visibilidade do torneio — e da proximidade das eleições — para intensificar as cobranças. A menos de um mês do início do Mundial, o gigante dá sinais de um novo despertar, com poder de influenciar diretamente na corrida presidencial.
Além dos anseios de categorias específicas — como os servidores do Judiciário em greve em Manaus —, pesam contra a gestão Dilma Rousseff o índice pífio de conclusão, até agora, de 41% dos projetos prometidos em 2010, como preparativos para a Copa que se tornariam legado para o país, nas áreas de mobilidade, segurança, telecomunicação e estádios. Canteiros de obra ainda em andamento, aeroportos em reformas, estádios inacabados, a 29 dias do Mundial, insuflam os movimentos sociais que adotam postura crítica em relação ao evento. Só 38% das obras de mobilidade, conforme mostrou o Correio no último domingo, foram concluídas. O tema do transporte é o mais caro entre a população e foi responsável pelas primeiras manifestações de junho do ano passado.
Além do Rio, de São Paulo e de Manaus, houve protestos em Belo Horizonte, no Recife, em Fortaleza, em Salvador e em Curitiba ontem.
Um dos principais destinos dos turistas que virão ao Brasil para o campeonato de futebol, o Rio teve um dia caótico ontem, reforçando o temor da comunidade internacional de que problemas afetem a viagem de milhares de estrangeiros. Segundo o último levantamento da Rio Ônibus, que reúne as concessionárias de transporte, 158 veículos foram atacados e 12 pessoas acabaram presas. O sindicato estimou que apenas 18% dos 8,8 mil coletivos circularam. Mas decisão do Tribunal Regional do Trabalho determinou que o serviço seja mantido com pelo menos 70% do efetivo de rodoviários do município. Além disso, ficou estabelecida multa diária de R$ 50 mil contra o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio de Janeiro (Sintraturb-Rio) em caso de descumprimento.
"Fundo político"
A direção da entidade afirmou que o movimento de ontem tem "fundo político". Segundo o sindicato, dissidentes insatisfeitos com a última negociação, em março passado, que garantiu aumento da ordem de 10%, têm impedido a categoria de trabalhar e provocado tumultos, como o da última quinta-feira, quando mais de 500 coletivos foram depredados. Por esse motivo, argumenta a diretoria do Sintraturb-Rio, a multa diária pela manutenção da greve não poderia ser imputada à entidade. São 40 mil profissionais no estado, entre motoristas, cobradores, mecânicos e fiscais. A greve da classe prejudicou, segundo o secretário de Transportes do Rio, Alexandre Sansão, 2 milhões de pessoas. Ele acrescentou, no entanto, que um plano de contingência foi colocado em prática. Para a população, no entanto, sobrou o descaso.
Outro foco de insatisfação com o governo local se deu em frente ao Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova. Cerca de 100 engenheiros, arquitetos e geólogos da prefeitura protestaram, marcando o início de uma paralisação de três dias como forma de reivindicar aumento do piso salarial de R$ 4,7 mil para R$ 8,4 mil. Hoje, os grevistas prometem ir à Assembleia Legislativa em busca de apoio. Os vigilantes particulares manifestaram em diferentes pontos, como parte da paralisação da categoria. Houve uma caminhada da Candelária em direção à Cinelândia. Em shoppings, eles entregaram panfletos conclamando os colegas de profissão a aderirem à greve, iniciada há três semanas.
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe) do Rio manteve a greve iniciada nesta semana, mesmo depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux de suspender o acordo firmado em 2013 entre a entidade e o governo do estado. Isso porque o sindicato não compareceu à audiência realizada ontem para promover a conciliação entre os dois lados, conduzida por Fux. Com isso, sanções estão liberadas, como corte de ponto e do salário. O Sepe retomou a paralisação, na última segunda-feira, alegando que o governo não tem cumprido os termos do acordo do ano passado, versão que as autoridades contestam.
Profissionais de educação da rede municipal de São Paulo, em greve há 20 dias, fizeram uma manifestação ontem, na Avenida Paulista. Eles exigem incorporação imediata do índice de 15,38% de reajuste salarial anunciado pelo governo da capital na última negociação. Querem também que a prefeitura melhore as condições de trabalho e acabe com as terceirizações. O sindicato dos trabalhadores afirmam que a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) aceita discutir apenas se o acréscimo salarial for considerado a partir de 2015. Mas os profissionais não abrem mão da incorporação imediata.
Legião de insatisfeitos
Confira municípios que têm protestos marcados para amanhã. A maioria organizou os evento via redes sociais:
Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, João Pessoa, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Uberlândia (MG), Vitória
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