- Valor Econômico
• Lula foi dispensado pelo PT no segundo turno das eleições
O desempenho dos candidatos apoiados por Lula no primeiro turno foi um duro choque de realidade para o ex-presidente: seu prestígio junto ao eleitorado caiu talvez mais do que indicam as pesquisas que o apontam como um candidato ainda competitivo para 2018. "Caiu a ficha", dizem os mais chegados. Nem o PT de Pernambuco, que o idolatrava, reclamou sua presença na campanha em segundo turno do Recife, a única em que o partido se faz presente, nas capitais.
Os candidatos que receberam o apoio de Lula já estavam mal e ficaram pior depois de sua passagem pelas cidades: Jandira Feghali (PCdoB), no Rio de Janeiro, Alice Portugal (PCdoB), em Salvador, capital da Bahia, Luizianne Lins (PT), na capital do Ceará, Fortaleza. No caso do Recife, João Paulo já estava na curva descendente, quando recebeu a visita do ex-presidente, na última semana de setembro, e em queda continuou depois que Lula pegou o avião de volta.
Fato: João Paulo nem sequer chamou Lula para voltar ao Recife, no segundo turno. Bastidores da trama: a campanha do candidato do PT pediu para o ex-presidente não ir a Recife. Houve época em que os partidos ameaçavam disputar judicialmente a imagem de Lula em Pernambuco, sua terra natal e onde antes batia recordes de votação. Quando esteve na cidade em setembro, Lula defendeu-se das acusações que pesam contra ele e atacou "o golpe" mais do que pediu votos para João Paulo. Não é à toa que prepara uma ofensiva de propaganda para novembro, conforme revelou ontem a repórter Andrea Jubé, no Valor.
A cinco dias do turno final da eleição, Lula não é o único presidenciável em dificuldades. O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB interveio na campanha do candidato do partido a prefeito de Belo Horizonte, João Leite, assumindo um risco que os políticos em geral procuram evitar: se Leite perder a eleição, a derrota será contabilizada na sua conta, o que até agora Aécio contornava evitando expor-se diretamente na campanha.
Os políticos costumam dizer que o resultado das eleições municipais não interfere nas eleições para governador e presidente da República, dois anos depois, mas são os primeiros a fazer a conta de chegada. Aceitam a vitória de João Doria, em São Paulo, como uma vitória de Geraldo Alckmin, hoje o favorito para ganhar a indicação do PSDB à Presidência, em cima de Aécio Neves, que foi derrotado por Dilma Rousseff em 2014, mas é o tucano de melhor desempenho nas quatro disputas com o PT desde 2002, quando Lula venceu pela primeira vez.
Doria venceu por ele mesmo. Era o candidato certo, na hora e no lugar certos. Segundo publicou a revista "Veja", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que a eleição de Doria em São Paulo aconteceu em função das características pessoais e do poder de comunicação do empresário e não teria nada a ver com Alckmin. Fato. Mas não deve ser ignorado que João Doria Junior somente foi o candidato do PSDB a prefeito devido ao empenho pessoal do governador, que não hesitou em dividir o PSDB para alcançar seu objetivo. Nesse aspecto, Doria, ao menos no momento, é uma peça pró-Alckmin no jogo interno do PSDB que levará à escolha do candidato à sucessão de 18, muito embora - ou até porque - pareça evidente que a ambição do empresário na política vai além da Prefeitura de São Paulo.
Depois de liderar no primeiro turno, Leite sofreu a virada no segundo turno, segundo as pesquisas. Como é candidato pela terceira vez a prefeito, sua vitória não era vista como uma vitória de Aécio, mas já é na conta do senador que sua eventual derrota está sendo debitada. Leite pode perder a eleição como perdeu as outras duas, porque não convenceu o eleitorado de ser a melhor opção para Belo Horizonte. Mas sua vitória também ajudaria Aécio no xadrez do PSDB.
Aécio sentiu o impasse, tanto que interveio na campanha de Leite. Ela ganhou o reforço de Andrea Neves, sua irmã, do deputado Marcus Pestana, um de seus aliados mais próximos, e de jornalistas e publicitários. Agora mesmo é que não há como dissociar de Aécio uma eventual vitória ou derrota.
A chegada da turma de Aécio elevou a temperatura da campanha, onde o candidato da virada, Alexandre Kalil (PHS), parecia caminhar para a vitória a bordo do discurso contra a política. "Chega de políticos", dizem inserções diárias do candidato na televisão. Em São Paulo, Doria também pescou nas águas do desprestígio da classe política, mas pode-se dizer que era um outsider institucionalizado, que até disputou prévias no PSDB. Aécio chegou disposto a acabar com o "bom mocismo" na campanha de Leite e desencadeou uma forte campanha negativa contra o adversário.
Uma etapa do calendário político será vencida no domingo, com o segundo turno das eleições municipais. Outra começa na segunda-feira, data a partir da qual os partidos devem iniciar as costuras para as eleições estaduais e de presidente da República. Cai um muro, no linguajar do Congresso. No momento, os partidos olham mais para as eleições de governador que de presidente. Se puderem, gostariam de acertar as alianças locais independentemente da aliança nacional ou que esta não subordinasse seus interesses nos Estados. Principalmente as siglas menores.
A eleição de 2016 pode não ter nenhuma repercussão sobre 2018, ainda mais num cenário sujeito às incertezas da operação Lava-Jato. Pode ser uma eleição como a de 1989, com muitos candidatos. Um cenário de múltiplas possibilidades (o que pode afetar a governabilidade de Michel Temer).
Lula ainda é o Plano A do PT. A diferença em relação há até bem pouco tempo atrás é que o partido agora reconhece que tem um Plano B: Ciro Gomes, do PDT. Ciro é uma das alternativas no baralho de parte do PSB, outra parte quer inventar uma candidatura própria. Ou seja, Alckmin terá oposição, quando tentar ser o candidato do partido, seja em aliança com o PSDB, se for o candidato tucano, ou filiando-se a ele, na hipótese de perder a disputa da indicação para Aécio Neves.
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