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Folha de S. Paulo
A carta
aberta de economistas, banqueiros e empresários cobrando medidas de combate
à pandemia é importante por mais de um motivo.
Primeiro,
por suas propostas tão simples quanto urgentes: acelerar o ritmo da vacinação;
incentivar o uso de máscaras; implementar medidas de distanciamento social de
acordo com necessidades e possibilidades definidas em nível local; criar
mecanismos de coordenação de âmbito nacional; e manter medidas de apoio à
população mais vulnerável e às pequenas e médias empresas enquanto durar a
emergência.
Depois, porque suas quatro parcimoniosas recomendações foram capazes de juntar pessoas com opiniões heterogêneas quanto ao melhor rumo para a economia. Uma vitória da demanda por sensatez sobre a demanda por mágica, nas palavras do economista Gustavo Franco, um dos mais de 1.500 subscritores do documento, em questão de dias.
Por
fim —e mais importante— pela
sinalização política que parece dar. Para além das diferenças de visão
da economia e da política, certamente existentes em um grupo tão numeroso, parte
dele é formado por pessoas que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff e que,
em 2018, por aversão ao PT, ou votaram no candidato da extrema direita, ou se
abstiveram, facilitando sua chegada ao Planalto. Que venham a público registrar
o desatino de sua atitude diante da pandemia é sintoma do isolamento político
crescente daquele cujo nome é melhor omitir.
O
mesmo parecem dizer as pesquisas com quem frequenta assiduamente as redes
sociais e o público em geral. Levantamento da empresa Arquimedes mostra que, no
mundo digital, as atitudes do ex-capitão diante da pandemia tem hoje o apoio
apenas dos seus minions. Liberais e defensores da Lava Jato, que já estiveram
mais animados com o governo, hoje falam um idioma aparentado ao dos opositores:
responsabilizam o inominável pelo desastre sanitário e a crise econômica.
Finalmente,
as mais recentes sondagens produzidas por diferentes institutos convergem ao
mostrar que, depois de ter obtido 46% dos votos válidos no primeiro turno e
55,3% no segundo, o ocupante do Planalto conta agora com cerca de 30% dos
brasileiros que consideram bom ou ótimo seu desempenho.
Em
outros termos, lideranças do mundo das ideias e dos negócios, ativistas
digitais e cidadãos comuns se distanciam daquele que há pouco mais de dois anos
foi tido como alternativa aceitável à permanência do PT no governo. Sem esses
apoios contingentes, a extrema direita não passa de minoria --ainda perigosa,
mas perdendo gás a olhos vistos e longe de ser imbatível nas urnas.
*Maria
Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP e
pesquisadora do Cebrap.
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