Everton
Lopes / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no pronunciamento feito pela TV na noite da terça-feira (23), quando passou a defender a vacinação em massa para a população, foi um disfarce para enganar o país.
Doria
disse que o Bolsonaro faz um pacto com a morte. "É o que ele está
acostumado a fazer ao propor cloroquina, não defender vacinas, não usar
máscaras, estimular aglomerações e fazer um disfarce, como fez ontem [terça] no
seu pronunciamento à nação. Foi um disfarce para enganar o país. Ali está o
retrato de um mentiroso", disse o governador.
"O
presidente não só foi um negacionista desde o início da pandemia, como também
não tem coordenação nacional, nem por ele nem pelo Ministério da Saúde",
afirmou.
Nesta
quarta-feira (24), Bolsonaro fez uma reunião com governadores para discutir
medidas de combate à pandemia no país. Doria, que não foi convidado para o
evento, criticou a ação do presidente.
"Fazer um pacto de união nacional apenas com os que adulam e apoiam o presidente é um jogo de cena, e disso não participo. Lamentamos que o presidente chame isso de pacto nacional", afirmou.
O
governador fez as declarações durante uma entrega de vacinas no Instituto
Butantan, nesta quarta-feira (24). Foram enviadas ao Ministério da Saúde mais
2,2 milhões de doses da Coronavac, usada contra o coronavírus Sars-CoV-2. Os
imunizantes são encaminhados ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) para
serem distribuídos proporcionalmente entre os estados.
Com
a entrega das vacinas nesta quarta, o total de unidades de imunizantes
repassados pelo governo de São Paulo ao Ministério da Saúde chega a 27,8
milhões de unidades. Os envios começaram em 17 de janeiro.
Desenvolvida
pela farmacêutica chinesa Sinovac, a Coronavac é processada e envasada pelo
Instituto Butantan através de um acordo entre o governo de São Paulo com a
empresa.
Segundo
o governo de São Paulo, até o fim de abril o Instituto Butantan deve entregar
46 milhões de doses da vacina. Em agosto, o total deve chegar aos 100 milhões
contratados pela pasta. Novos lotes do IFA (insumo farmacêutico ativo), a
matéria prima para a vacina vinda da China, devem ser entregues até o fim de
março ou início de abril, segundo o Butantan.
A
vacinação contra a doença é uma das maiores prioridades do combate à pandemia
em meio aos números cada vez mais altos de mortes causadas pelo vírus no país.
A Coronavac é, cada vez mais, a principal esperança na campanha de vacinação
nacional.
A
outra vacina disponível no Brasil, a Covishield, produzida por uma parceria
entre a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford, é
processada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) por meio de um acordo bancado
pelo governo federal. Mas a produção
tem sofrido atrasos consecutivos, e as estimativas de entregas do
imunizante são constantemente reduzidas.
Na
terça-feira (23), o Centro de Contingência da Covid-19 recomendou que o estado
de São Paulo prorrogue por mais 15 dias a fase emergencial do Plano São Paulo
como tentativa de barrar o avanço do vírus no estado. A informação foi confirmada
à Folha pelo
coordenador do centro, o médico Paulo Menezes. De acordo com ele, o governo
ainda não decidiu sobre a proposta.
Em
vigor desde o dia 15 de março, a etapa emergencial deve continuar até o dia 30
deste mês, inicialmente. Mais dura que a fase vermelha, a emergencial impõe um
toque de recolher das 20h às 5h, entre outras restrições.
Os
altos números de expansão da doença no estado pressionam uma decisão por
estender as medidas restritivas.
Na
terça-feira (23), somente o estado de São Paulo registrou 1.021 mortes causadas
pela Covid-19 em um período de 24 horas, o número mais alto até o momento
dentro da pandemia.
Pelo
estado, hospitais lotados dificultam o acesso ao cuidado dos doentes em estados
mais graves, o que pode fazer crescer ainda mais o número de óbitos.
No país todo, foram registradas 3.158 mortes causadas pelo coronavírus na terça-feira (23), um recorde de óbitos em um dia.
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