Folha de S. Paulo
Lula e Bolsonaro se retroalimentam numa
dinâmica de sinais trocados
De volta à cena, senão dos crimes ainda a
serem juridicamente configurados, mas ao cenário da política nacional onde não
há sinal de pacificação à vista, Jair
Bolsonaro chegou para confrontar. E o PT, na voz da presidente
do partido, já mostrou que topa a briga. "Tá voltando, genocida?",
provocou Gleisi
Hoffmann na véspera do desembarque do antagonista.
Armado o ringue, o Brasil segue prisioneiro das narrativas conflagradas. Duas forças opostas que se retroalimentam numa dinâmica de sinais trocados, que sequestra o debate e faz dos brasileiros reféns da colisão permanente. A conferir se o presidente Luiz Inácio da Silva entrará no embate ou se deixará a tarefa para porta-vozes. Na essência, dá no mesmo, na escalação mútua do malvado predileto.
Os combatentes divergem no conteúdo, mas na
forma se parecem. Cultuam a mitologia do herói, são intolerantes ao
contraditório, têm talento para criar distrações, alimentam fantasias
persecutórias, nutrem rancores, exibem-se onipotentes, não permitem que lhes
façam sombra, profetizam como quem descobriu a pólvora e enxergam no adversário
um inimigo a ser aniquilado.
Há outras semelhanças. Fiquemos nas mais
evidentes a fim de não atrair a ira dos arautos da tese da falsa equivalência.
As descritas acima bastam para desenhar o traço de união que demonstra o
atrativo que as exorbitâncias exercem sobre a conduta do eleitor.
Atraentes o bastante para superar o senso
de moderação visto nas pesquisas. Vejam a coincidência. Em 2021, a consultoria
Quaest apontava que 57% preferiam candidatura alternativa a Lula ou Bolsonaro.
Em 2023, o Ipec apontou também 57% desejando o mesmo para a próxima
eleição presidencial.
O apreço ao centro não se viu
nas urnas em 2022. Tampouco se vê agora, embora a maré possa virar
se os extremos seguirem mais ocupados em criar caso, apostando no medo e na
rejeição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário