quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Boulos e a esquerda na encruzilhada – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Fatalismo do deputado não é um delírio, mas pureza ideológica não vai resolver tudo

Guilherme Boulos deu alguns passos em direção ao centro na última campanha. Tentou suavizar bandeiras para não ser engolido pela rejeição a seu histórico político. A experiência talvez tenha sido frustrante demais: o deputado não apenas foi derrotado como saiu das urnas afirmando que a esquerda não deveria fazer concessões daquele tipo.

Boulos escolheu o lado em que seguirá na encruzilhada sobre os rumos da esquerdaEm entrevista a Mônica Bergamo quatro dias após a eleição, ele se queixou de "setores do PT" que defendem o caminho do centro para resistir ao avanço da extrema direita. Para o deputado do PSOL, essa opção seria "um suicídio histórico".

O fatalismo de Boulos não é um delírio, mas está ancorado numa premissa torta. O deputado tem razão quando diz que a esquerda não deveria "se travestir de centro", abandonar convicções, adotar ideias prontas de outros atores do espectro eleitoral e, na prática, abandonar o campo como alternativa política. O erro é acreditar que a pureza ideológica vai resolver todos os problemas.

O argumento central de Boulos e de outros políticos é que a esquerda precisa sustentar suas posições sem timidez, mesmo em temas considerados espinhosos. A extrema direita, segundo esse raciocínio, cresceu porque a esquerda abriu mão de "disputar visões de mundo" e permitiu que os adversários vendessem um produto que parecia mais atraente.

Essa não é a história completa. A esquerda também enfrenta desgastes porque foi incapaz de elaborar, dentro de suas fronteiras ideológicas, soluções para uma sociedade em transformação. Não conseguiu oferecer uma plataforma de segurança compatível com a proteção dos direitos humanos nem atualizar suas políticas redistributivas após bem-sucedidas experiências de transferência de renda, por exemplo.

O desenho de Boulos tem o mérito de diferenciar a ação política da esquerda e as posições de uma aliança liderada pela esquerda (hoje, por Lula). Partidos desse campo podem preservar valores e lutar para que a coalizão aceite incorporar a maior parte deles. Ao menos por enquanto, há uma distância entre esse programa e o pragmatismo que guia a disputa por cargos majoritários.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Situação da esquerda já tá ruim imagina com a vitória do Trump que fez barba cabelo e bigode ; presidência , Senado e Câmara de deputados para os republicanos Essa cambada aqui do STF que se cuide vão ser barrado na entrada dos Estados Unidos pra começar

ADEMAR AMANCIO disse...

Não vejo Boulos como radical,ele só devia ser menos agressivo nos debates.

Anônimo disse...

Anônimo, calma. Olha a pressão. rs

Anônimo disse...

Não te preocupa Anônimo 2. O Anônimo 1 é médico, diagnosticou que Lula teria tido gravíssimo acidente na queda no banheiro, passaria por cirurgia ou outros procedimentos de risco... O governo do Lula estaria escondendo estas informações da população... kkkk