O Estado de S. Paulo
Por ora, a anistia aos golpistas fica adiada para um momento político mais favorável
Com a desculpa de frear os supostos desmandos
do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados aprovaram uma emenda à
Constituição para proteger a si mesmos de investigações criminais. A negociação
começou com a tentativa de anistiar Jair Bolsonaro e outros sete réus da trama
golpista, condenados na semana passada pela Corte. A Câmara, porém, considerou
o autoperdão mais urgente.
Na votação da PEC da Blindagem, parlamentares usaram a anistia aos golpistas como moeda de troca para obtenção de benefício próprio. Hoje, deputados e senadores estão mais preocupados em se livrarem das dezenas de investigações que tramitam no Supremo sobre indícios de corrupção por meio de emendas.
No início da semana, Flávio Dino alertou que
não vai deixar o assunto morrer só porque o STF está debruçado nos processos
sobre a tentativa de golpe. Quatro dias depois das condenações aos integrantes
do núcleo principal, o ministro bloqueou o repasse de emendas Pix para locais
onde foram detectados desvio de recursos.
O protagonista da negociação de fachada em
torno da anistia foi Tarcísio de Freitas, que decidiu mostrar serviço ao
bolsonarismo raiz em troca de um punhado de votos. Ele sabe que, para o perdão
ser posto em prática, é preciso combinar com o STF a extensão da medida. Do
contrário, o plenário da Corte pode considerar a anistia inconstitucional. O
problema é que ministros do tribunal com mais interlocução com a política não
querem nem conversa com o governador de São Paulo depois que ele chamou
Alexandre de Moraes de ditador e tirano no 7 de Setembro.
O posto de negociador principal, então, ficou
com o presidente da Câmara, Hugo Motta. Ciente de que o STF não aprovaria o
perdão a Bolsonaro agora, Motta deu aos parlamentares o que de fato eles
queriam: uma anistia para cada.
Por ora, a anistia aos golpistas fica adiada
para data indefinida, em um momento político mais favorável. No lugar dela,
entrou em campo o plano B. A intenção de parlamentares é convencer do STF a
aceitar o cumprimento da pena de Bolsonaro em regime domiciliar em troca do
enterro – ao menos provisório – do projeto de anistia. O plano pode funcionar.
De volta à PEC da Blindagem, apontada como
solução para o impasse: ela deve servir apenas para piorar a relação atribulada
entre Legislativo e Judiciário. Se for aprovada no Senado, partidos de esquerda
devem questionar a medida no STF com o argumento de que ela fere o princípio
constitucional da separação de Poderes. Mais uma vez, o Supremo dará a última
palavra. É grande a chance de derrota do Congresso.
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